Me deixa falar difícil
Simples palavras não me bastam
Metáforas velhas e usadas
Que pouco a pouco se desgastam
Existe um certo vazio
Existe um grande problema
As coisas se complicaram
Quando fomos juntos ao cinema
E o que eu vou te falar
Vai soar um pouco obsceno
Mas esses muros só são altos quando a gente é pequeno
Existe uma poça morna
Onde os meus medos sopram mais
E se já não tenho forças
Não sei do que sou capaz
Existe um certo delay
Existe uma grande diferença
As coisas podem não ser
Exatamente o que você pensa
E o que eu vou te falar
Vai soar um pouco obsceno
Mas esses muros só são altos quando a gente é pequeno
Como as notas de uma melodia que no início não fazem sentido, mas depois começam a soar familiares.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
O Jogo das Folhas
As árvores iam ficando cada vez mais próximas umas das outras à medida em que passavam por elas. Tabitha arfava, mas não diminuía o passo. Aquilo tinha começado como uma fuga discreta, mas transformara-se numa brincadeira de pique-esconde que divertia o seu lado cruel. A voz de Pedro ainda chamava seu nome e ela escutava seus passos atrás de si.
Parte disso era uma espécie de vingança. Ela sentia raiva do rapaz por entrar no jogo de suas mães e de fato tentar aproximar-se dela. Queria faze-lo ver o quão ridícula era aquela tentativa de casamento e o quão ridículo ele ficava correndo atrás dela pelo bosque.
Toda vez que escutava seus passos se aproximando, Tabitha acelerava e embrenhava-se cada vez mais na mata. Embrenhava-se impulsivamente em brechas entre os troncos, cada vez mais próximos. No que, ofegante, suada e vermelha, tropeçou numa raiz e caiu é que percebeu não ter mais a menor ideia de onde estava. Mais: deu-se conta do quão trançados eram os galhos ao seu redor, do quão escuro era o bosque, do quão densas eram as copas das árvores, do quão difícil se tornara respirar.
E então a sensação tomou conta dela novamente, talvez catalisada pela adrenalina da corrida. Ela se bateu em círculo nas árvores e galhos, na urgência de sair daquele lugar. Seus braços encheram-se de linhas vermelhas e contusões. O pânico tornava inúteis as suas tentativas e os olhos tornaram-se turvos pelo que ela percebeu serem lágrimas. Como fora tola! Mas conseguia lembrar-se do que a levara a afundar-se numa armadilha tão óbvia do destino.
O desespero atingiu tal ponto, que Tabitha jogou-se nos primeiros braços que avistou, implorando que lhe tirassem de lá. Seu orgulho nem mesmo chegou a manifestar-se enquanto Pedro a carregava no colo e seus pulmões só voltaram à tranquilidade depois que ele a sentou na grama na orla do bosque, em frente a uma imensa e verdejante pradaria. Mesmo a estonteante vista só se fez notar por seus olhos de maneira digna depois de muitas respirações profundas e algumas lágrimas enxugadas.
Um imenso tapete macio e ondulado se estendia aos seus pés e cobria o chão até onde a vista se perdia. As cores todas brilhavam como a pele de uma cobra e pareciam vibrar como se tivessem vida própria. Os olhos de Tabitha grudaram no horizonte e ela torceu as mãos, como que para desfazer o nó que se formava em sua garganta.
"Droga." pensou, o orgulho reclamando como o rangido de uma porta. "A cumplicidade é uma coisa engraçada: não pode ser forçada, não pode ser evitada..." Resignou-se.
Olhou de canto para o rapaz ao seu lado. Ele encarava a paisagem com extraordinária calma, parecendo não notar a presença dela. Sua atenção voltou-se, porém, de maneira imediata quando ela disse:
"Obrigada. Claustrofobia."
"Sem problemas. Mim Pedro." satirizou ele, referindo-se à incrível articulação verbal na fala de Tabitha. No que a moça fechou a cara, completou:
"Ora, tenha um pouco de senso de humor! Você quase me matou de porrada a menos de cinco minutos e eu não estou fazendo drama nenhum!"
"Eu te bati?" Exclamou a menina, com espanto. Possuía a memória de simplesmente deixar-se levar. "Me... Desculpe." Balbuciou ela, com sinceridade. Numa outra situação teria ficado satisfeita por distribuir tabefes no seu pretendente, mas começava a achar que ele talvez não fosse um paspalho com merda na cabeça, afinal de contas.
Pedro riu, simpático. "Claustrofobia, então, hum?" disse "Não se preocupe, você tem mais amiguinhos pelo mundo do que imagina. " brincou ele, olhando-a de um jeito divertido.
Tabitha riu, percebendo meio a contragosto que sua antipatia era, aos poucos, substituída por um afeto delicado. Conversaram longamente. O sol não mostrava sinais de mover-se através do céu e, mesmo tendo a sensação de que horas haviam se passado, a garota não notou qualquer mudança na luz.
"Onde estamos?" perguntou-lhe, interrompendo o primeiro silêncio que se formava entre eles. Pedro olhou ao redor, franzindo o cenho.
"Não tenho a mais pálida noção." respondeu. "Venho aqui desde criança, mas nunca encontrei ningupem por esses lados. Deve ficar em algum lugar depois do bosque da minha casa, mas não sei precisar: só encontro quando me perco."
"Há algo que eu percebi: o tempo aqui não passa." denotou ela, e ele assentiu com a cabeça.
Tabitha fechou os olhos e tentou lembrar do caminho que os levara até ali, mas suas lembranças eram um borrão. Ela enrubesceu ao pensar no ataque de pânico e em como ele a salvara e decidiu agradecer de alguma forma. Lembrou do saco de caramelos que trouxera de casa e resgatou-os de dentro do corpete.
"Escuta, obrigada pelo que fez por mim, por me trazer aqui. eu te julguei mal. Me desculpe." disse ela, o remorso cutucando sua voz. "Tome, eu trouxe de casa. Deixe-me agradecer de algum jeito." Estendeu a sacolinha para o rapaz. Os olhos dele brilharam e um sorriso tomou novamente o seu rosto.
"Caramelos!" disse ele, com alegria indiscreta. "Eu AMO caramelos! Mas olhe, não precisa se desculpar. Agora somos amigos, certo?" completou, animando-se ainda mais quando ela assentiu. "Bem, guarde esse tesouro pra depois, que eu tenho aqui comigo uma coisa que vai deixar os doces ainda melhores."
Pedro tirou do próprio bolso um embrulho e pôs diante dela, abrindo com cuidado. Dentro, Tabitha pôde ver uma espécie de farinha de folhas amassadas a minuciosamente picotadas.
"Você realmente vai comer isso?" Perguntou ela, desconfiada.
"Você realmente vai comer isso?" Perguntou ela, desconfiada.
"Você verá." disse ele, misterioso."Agora cheire."
Ela aproximou o nariz e o aroma que sentiu era totalmente desconhecido.
"Esquisito." riu ela "Acho que vou gostar, cara."
"Você não sabe o quanto." respondeu o rapaz.
A tarde resumiu-se ao início de uma nova amizade e ao fim dos caramelos de Tabitha.
"Realmente," refletiu ela "nada é o que parece." E sorriu, pensando ser a coisa mais genial do mundo.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Vaso Chinês
Sobre o bem que me faz e sobre tudo o mais... É de uma felicidade tão pura que temo quebrar como vidro transparente ou coração indefeso. Mais que seus olhos, são seus olhares, é o seu toque, é o que eu tenho medo de perder. Com meu veneno escroto, meia palavra basta. Pra bom entendedor, isso seria adeus, mas, e pra você? Não posso ser decifrada por bons entendedores, talvez por ninguém, nunca ao todo.
Amo estar assim, odeio estar assim. Amo você, odeio a mim. Gruda em mim? Pele com pele? Só não me deixa te arranhar! É possível isso? Queria correr, queria ficar. Não vá embora. Vou até a esquina, te juro de morte, respiro três vezes e volto nua pra você. Nua de máscaras, cheia de beijos. Cuidado com as presas! Mas eu mordo tão de leve, tão delicada. Mordo porque gosto do sabor e do cheiro de você. Cuidado com o veneno!
A felicidade se esbarra pelos meus cotovelos como o vaso chinês de uma avó. Delicado, quebrável, cheio de detalhes minuciosos. Resistiu por mil anos e mil são os pedaços que lhe sobram depois do meu toque. Sou acostumada a lidar com tristezas e canecas de plástico, colheres de madeira. O que tenho agora nas mãos é pros ricos, pros dignos. Não sei lidar com taças e risos cristalinos. Oh, drama, oh, vida, oh, tarde caída, oh, puta que pariu meus desconfortos e egoísmos.
Se quer me abraçar, então abra os braços. O primeiro passo é igual para punhaladas e abraço. Mas o brilho dos seus olhos... Não há nada que me cegue mais para a paisagem ao redor. Perigoso isso; atropelamentos, e tal. Quando se abrem, suas pupilas me sugam como buracos negros cor de mel. Furtacor, furta chão, furta realidade e eu mergulho. Aquário e escuro. Se quer me fisgar, puxe a linha, que na ponta outra estão meus lábios: furados de anzol, molhados de sangue, pútridos de veneno, sedentos. Não necessariamente nessa ordem. Furados de veneno, sedentos de sangue, pútridos com o anzol, molhados. Veja de perto: molhados de anzóis, sedentos de veneno, pútridos de sangue, furados.
Eu retiro tudo o que disse, você querendo. E não posso apagar meu pensar, mas posso tentar! Coerência nunca foi fator inerente a texto meu e tampouco é necessário entender na cabeça, com pecinhas de palavras cruzadas, o que digo com meu cheiro, com as imagens por trás das linhas. Para bom entendedor, meia palavra basta. Mas, e pra você?
"Am--"
"Am--"
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Too close to hell
"I'm going down to be by myself
I'm going back for the good of my health"
Amnésia (ft. Tom Nobre)
Hoje eu acordei
Quase sem nenhuma vontade
Percebi
Que não tinha mais coragem
A luz do sol
Me confirmou que estava só de passagem
E o dia começou mais devagar
Hoje eu acordei
Com uma sensação engraçada
Mas não era
O tipo bom e que te faz dar risada
A luz do sol
Apareceu sem ser convidada
E o dia me encontrou de mau humor
Eu tentei, me dediquei
E até lembrei do meu nome
Que se esconde quando estou com você
Nem tente me dizer
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Hoje eu acordei
Sem notar o mundo lá fora
Caminhando
No passado e no futuro de agora
A luz da lua
Se escondeu, levando a noite embora
E eu percebi que não me importo tanto assim
Quero te falar
Do que eu achei debaixo da cama
Descobri de onde
Vem aquela voz que me chama
O tique taque
De um relógio que me deixa insana
Eu fecho os olhos pra acordar e tento não sorrir
Eu tentei, me dediquei
E até lembrei do seu nome
Que se esconde quando estou com você
Nem tente me dizer
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Não é mais segredo
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Nunca foi segredo!
Não é mais segredo!
Nunca foi segredo!
Não é mais segredo!
(...)
Quase sem nenhuma vontade
Percebi
Que não tinha mais coragem
A luz do sol
Me confirmou que estava só de passagem
E o dia começou mais devagar
Hoje eu acordei
Com uma sensação engraçada
Mas não era
O tipo bom e que te faz dar risada
A luz do sol
Apareceu sem ser convidada
E o dia me encontrou de mau humor
Eu tentei, me dediquei
E até lembrei do meu nome
Que se esconde quando estou com você
Nem tente me dizer
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Hoje eu acordei
Sem notar o mundo lá fora
Caminhando
No passado e no futuro de agora
A luz da lua
Se escondeu, levando a noite embora
E eu percebi que não me importo tanto assim
Quero te falar
Do que eu achei debaixo da cama
Descobri de onde
Vem aquela voz que me chama
O tique taque
De um relógio que me deixa insana
Eu fecho os olhos pra acordar e tento não sorrir
Eu tentei, me dediquei
E até lembrei do seu nome
Que se esconde quando estou com você
Nem tente me dizer
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Não é mais segredo
Eu anoto coisas e esqueço de novo
Amarro fitinhas na ponta dos dedos
Já não confio tanto nos seus olhos
Minha incompetência não é mais segredo
Nunca foi segredo!
Não é mais segredo!
Nunca foi segredo!
Não é mais segredo!
(...)
Edge of Something - Conversas de Parede
Tenho conversado com mosquitos madrugada adentro. Como pode uma pessoa estar cansada demais pra dormir? Meus ossos nem tão velhos reclamam em cada posição e os estalos nem mesmo me permitem lembrar que eu tenho que respirar uma vez... Duas... Três... Quatro... E oi, senhor mosquito! Como está a senhora sua esposa? E as crianças? Imagino o quanto não devem ter crescido, regadas por esse meu fértil sangue.
E perdida entre essas conversas de parede eu já perdi a conta de novo e, assim, mil e uma respirações não são oxigênio suficiente para dopar sequer um terço das caramiolas que carrego. Me preocupa o vazio, a ansiedade, a falta de objetivos, a pouca importância que parecem ter as metas e números que eu deveria atingir. Como lutar pela mera promessa de uma clareza que, juram (!), um dia vai chegar?
Acho que é o momento em que você e arrepende de todas as sonecas que se recusou a tirar quando, depois do almoço, sua mãe lhe pedia um minuto de paz na casa. Sair correndo com a barriga ainda cheia de comida me parecia um ótimo negócio e, apesar de todos os avisos, eu nunca vomitei. Nem mesmo quando plantava bananeira.
Agora a cada manhã meu estômago faz menção de desfazer-se do que lhe empurrei goela abaixo. Agora a casa está em paz e o barulho do ventilador misturado aos ruídos dos gatos na rua são a perfeita canção de ninar. Ainda assim, a cama parece rejeitar as células do meu corpo e as lembranças do dia fazem questão de esfregar na cara minhas pequenas incompetências, para explicitar a impotência de consertar tudo naquele momento. Copo d'água. Nada parece melhorar a aridez impermeável de uma garganta já saturada por gritos contidos.
Corpo virado para o teto. Lembre de respirar. Vamos, fundo! Um... Dois...Cinco... Espera um pouco... Quatro... Cin=%&* Argh! Não aguento mais escrever sobre como é difícil dormir. Me parece que todas as músicas que canto ecoam "insônia" aos ouvidos já saturados por The Jesus and Mary Chain, The Horrors, por Beethoven e Chopin, all day long. Estou cansada demais para dormir, sim! Atolada na falta de um caminho outrora pavimentado por tijolos amarelos.
Querido, amado senhor mosquito: pra que mendigar migalhas? Leve logo tudo, minhas hemácias são suas! Alimente seus primos, tios, avós... Doe para os mosquitinhos famintos da África ou guarde para sí em bancos de sangue secretos na Suíça. Eu não me importo, não se acanhe, leve! Depois vá embora para que eu posta encostar meu corpo suado no frio da parede, desejando que fosse pele de um corpo outrora nomeado, mas já sem rosto ou perspectivas. "Faríamos amor na ponta de uma faca!", eu costumava sussurrar.
A contagem já se perdeu entre as respirações e, de repente, me parece improvável que exista tanto oxigênio na atmosfera. O estoque há de ser imenso porque é um longo, mas um longo, longo, longo, longo caminho até a calma, até o sonho. Para chegar no esquecimento. Esquecer que o futuro é um precipício. Fundo. Ou que talvez não tenha fundo. Pior! Talvez não tenha nem mesmo ar-condicionado.
E perdida entre essas conversas de parede eu já perdi a conta de novo e, assim, mil e uma respirações não são oxigênio suficiente para dopar sequer um terço das caramiolas que carrego. Me preocupa o vazio, a ansiedade, a falta de objetivos, a pouca importância que parecem ter as metas e números que eu deveria atingir. Como lutar pela mera promessa de uma clareza que, juram (!), um dia vai chegar?
Acho que é o momento em que você e arrepende de todas as sonecas que se recusou a tirar quando, depois do almoço, sua mãe lhe pedia um minuto de paz na casa. Sair correndo com a barriga ainda cheia de comida me parecia um ótimo negócio e, apesar de todos os avisos, eu nunca vomitei. Nem mesmo quando plantava bananeira.
Agora a cada manhã meu estômago faz menção de desfazer-se do que lhe empurrei goela abaixo. Agora a casa está em paz e o barulho do ventilador misturado aos ruídos dos gatos na rua são a perfeita canção de ninar. Ainda assim, a cama parece rejeitar as células do meu corpo e as lembranças do dia fazem questão de esfregar na cara minhas pequenas incompetências, para explicitar a impotência de consertar tudo naquele momento. Copo d'água. Nada parece melhorar a aridez impermeável de uma garganta já saturada por gritos contidos.
Corpo virado para o teto. Lembre de respirar. Vamos, fundo! Um... Dois...Cinco... Espera um pouco... Quatro... Cin=%&* Argh! Não aguento mais escrever sobre como é difícil dormir. Me parece que todas as músicas que canto ecoam "insônia" aos ouvidos já saturados por The Jesus and Mary Chain, The Horrors, por Beethoven e Chopin, all day long. Estou cansada demais para dormir, sim! Atolada na falta de um caminho outrora pavimentado por tijolos amarelos.
Querido, amado senhor mosquito: pra que mendigar migalhas? Leve logo tudo, minhas hemácias são suas! Alimente seus primos, tios, avós... Doe para os mosquitinhos famintos da África ou guarde para sí em bancos de sangue secretos na Suíça. Eu não me importo, não se acanhe, leve! Depois vá embora para que eu posta encostar meu corpo suado no frio da parede, desejando que fosse pele de um corpo outrora nomeado, mas já sem rosto ou perspectivas. "Faríamos amor na ponta de uma faca!", eu costumava sussurrar.
A contagem já se perdeu entre as respirações e, de repente, me parece improvável que exista tanto oxigênio na atmosfera. O estoque há de ser imenso porque é um longo, mas um longo, longo, longo, longo caminho até a calma, até o sonho. Para chegar no esquecimento. Esquecer que o futuro é um precipício. Fundo. Ou que talvez não tenha fundo. Pior! Talvez não tenha nem mesmo ar-condicionado.
Mapa da Lua
Faço o milagre
Da multiplicação dos segundos
Termino de gastar meu tempo
Em pensamentos vagabundos
"Eu não sei" não é
Resposta que se dê, minha filha
Não faça essa cara de emburrada
Não destrua a mobília
Eu tenho um mapa da lua, amor
Quem sabe a gente não se perde por lá
Eu me cansei dos humanos
E dos problemas todos que isso dá
Vamos embora pra lua, amor
Que mais você quer da vida
São Jorge já se mudou pra Marte
Vai ser só eu e você, querida
Faço o milagre
Da multiplicação das segundas
Mantenho a calma que me resta
Com respirações profundas
Já é de lei fingir
Toda essa minha estupidez
Não ponho mais o corpo nessa terra
Onde os fracos não têm vez
Eu tenho um mapa da lua, amor
Tem tempo que eu tô indo embora
Me diz o que você perdeu aqui
Que não quer mais ir agora
Vamos embora pra lua, amor
Que mais você quer da vida
São Jorge já se mudou pra Marte
Vai ser só eu e você, querida
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Ouro e Mercúrio
Desperta-me. Convence-me de que eu sou eu e espelho é espelho. Traça o limiar e descola esse horizonte, agora tão colado no reflexo de quem eu poderia ser. Beija-me em ângulos duvidosos, provando e mostrando que só os corpos tolos não ocupam o mesmo espaço. Tolos corpos tristes fadados à solidão de pertencerem só a sí mesmos e, portanto, a ninguém.
Derrete-me. Separa meu ouro do mercúrio que usei para tentar me encontrar e que serviu apenas para intoxicar meu sangue. E, se algum ouro meu sobrou, cobre-me com ele para que eu brilhe como o sol da meia noite nas noites sem fim e sem descanso onde habita minha sonâmbula alma. É um deserto de líquidas dunas, é a maior prisão do mundo, é o abismo que cabe no diâmetro de um crânio.
Encanta-me. Quebra o desencanto e o desconsolo de achar que os anos são só parênquimas sem função, entre dois tecidos inalcansáveis que a tudo dariam sentido. Amarra-me. Segura-me entre seus braços para que eu enlace teu pensamento com minhas pernas e afaste meus pés da linha tênue pela qual tenho andado. É uma corda bamba que leva a lugar nenhum e passa tão perto da loucura!
Salva-me. Desperta-me. Derrete-me. Encanta-me. Beija-me de olhos fechados.
Me abraça. Tudo pode dar certo.
Derrete-me. Separa meu ouro do mercúrio que usei para tentar me encontrar e que serviu apenas para intoxicar meu sangue. E, se algum ouro meu sobrou, cobre-me com ele para que eu brilhe como o sol da meia noite nas noites sem fim e sem descanso onde habita minha sonâmbula alma. É um deserto de líquidas dunas, é a maior prisão do mundo, é o abismo que cabe no diâmetro de um crânio.
Encanta-me. Quebra o desencanto e o desconsolo de achar que os anos são só parênquimas sem função, entre dois tecidos inalcansáveis que a tudo dariam sentido. Amarra-me. Segura-me entre seus braços para que eu enlace teu pensamento com minhas pernas e afaste meus pés da linha tênue pela qual tenho andado. É uma corda bamba que leva a lugar nenhum e passa tão perto da loucura!
Salva-me. Desperta-me. Derrete-me. Encanta-me. Beija-me de olhos fechados.
Me abraça. Tudo pode dar certo.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Coisas que Começam Assim
Dizem por ai
Que alguém tem ele na mão
Que ele tem sonhos
E até já sentiu calor
Dizem por ai
Que uma maçã lhe envenenou
Que ele não sabe mais
No que acreditar
O que você está dizendo?
"Largaram por ai que a cidade tá sabendo"
Tem guerras que começam assim
Mas isso gera treta
E eu sinceramente não tô afim
Do que você está falando?
Nós já estamos prontos e a cidade borbulhando
Tem noites que começam assim
Mas reza a velha lenda
Que ninguém se lembra muito do fim
Já ouvi contarem
Que o sorriso é de matar
Mas que seus olhos
Andam sempre junto aos pés
Pouca gente viu
O que ele tem na mão
Além de unhas mal cortadas
E a palheta de uma guitarra
Eu acho que não
Eu acho que não
Falar de sí é jogar merda no próprio chão
Me diga que não
Me diga que não
Nem toda merda é limpa só com água e sabão
Mas fale pra mim
Eu sei que me disseram que tem coisas que começam assim
O que você está dizendo
"Largaram por ai que a cidade tá sabendo"
Tem guerras que começam assim
Mas isso gera treta
E eu sinceramente não tô afim
O que você está falando
Nós já estamos prontos e a cidade borbulhando
Tem noites que começam assim
Mas reza a velha lenda
Que ninguém se lembra muito do fim
Que alguém tem ele na mão
Que ele tem sonhos
E até já sentiu calor
Dizem por ai
Que uma maçã lhe envenenou
Que ele não sabe mais
No que acreditar
O que você está dizendo?
"Largaram por ai que a cidade tá sabendo"
Tem guerras que começam assim
Mas isso gera treta
E eu sinceramente não tô afim
Do que você está falando?
Nós já estamos prontos e a cidade borbulhando
Tem noites que começam assim
Mas reza a velha lenda
Que ninguém se lembra muito do fim
Já ouvi contarem
Que o sorriso é de matar
Mas que seus olhos
Andam sempre junto aos pés
Pouca gente viu
O que ele tem na mão
Além de unhas mal cortadas
E a palheta de uma guitarra
Eu acho que não
Eu acho que não
Falar de sí é jogar merda no próprio chão
Me diga que não
Me diga que não
Nem toda merda é limpa só com água e sabão
Mas fale pra mim
Eu sei que me disseram que tem coisas que começam assim
O que você está dizendo
"Largaram por ai que a cidade tá sabendo"
Tem guerras que começam assim
Mas isso gera treta
E eu sinceramente não tô afim
O que você está falando
Nós já estamos prontos e a cidade borbulhando
Tem noites que começam assim
Mas reza a velha lenda
Que ninguém se lembra muito do fim
My Shell
Look at me
Look at my sins
Look at how happy I've been
Is that really hard to tell
The secrets I keep in my shell?
Fly with me
Fly with wide wings
See how good we could have been
Won't you figure my disguise?
I never look you in the eyes
So make me bleed
And thank you for your help
Burn me up
Spit in my skull
Drown me deep inside the pool
Lost my thoughts now, once again
Hiding somewhere in my brain
Look at me
Look in the eye
You could never really fly
Call me up to keep me down
I'm already pretty drowned
Release my smile
And thank you for your time
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Judas Morreu e Eu Não Fiquei Sabendo
Naqueles dias em que se acorda virado
Você levanta pelo lado errado
Tem coisa estranha no ar
E ninguém te olha bem na cara
Tem mais sussurros do que algazarra
Tem coisa podre no ar
Você sobe correndo a escada
Passa pela porta de entrada
E vem o sentimento de que a festa para
Pra te olhar
E as pessoas certas vão se escondendo
Judas morreu e eu não fiquei sabendo
As línguas venenosas vão se contorcer
É, a-ha-ha-ha
Dê meia volta
A-ha-ha-ha
Dê meia volta volver
E aquele copo que se tinha virado
Não tem nada a ver com o estômago embrulhado
Você começa a se tocar
E as comadres que cumprimentaram
Se algo sabiam, nunca te contaram
Você começa a se tocar
E você cruza a sala lotada
Escuta uma conversa abafada
E vem o sentimento de que o mundo para
Pra te olhar
E as pessoas certas vão se escondendo
Judas morreu e eu não fiquei sabendo
As línguas venenosas vão se contorcer
É, a-ha-ha-ha
Dê meia volta
A-ha-ha-ha
Dê meia volta volver
Você levanta pelo lado errado
Tem coisa estranha no ar
E ninguém te olha bem na cara
Tem mais sussurros do que algazarra
Tem coisa podre no ar
Você sobe correndo a escada
Passa pela porta de entrada
E vem o sentimento de que a festa para
Pra te olhar
E as pessoas certas vão se escondendo
Judas morreu e eu não fiquei sabendo
As línguas venenosas vão se contorcer
É, a-ha-ha-ha
Dê meia volta
A-ha-ha-ha
Dê meia volta volver
E aquele copo que se tinha virado
Não tem nada a ver com o estômago embrulhado
Você começa a se tocar
E as comadres que cumprimentaram
Se algo sabiam, nunca te contaram
Você começa a se tocar
E você cruza a sala lotada
Escuta uma conversa abafada
E vem o sentimento de que o mundo para
Pra te olhar
E as pessoas certas vão se escondendo
Judas morreu e eu não fiquei sabendo
As línguas venenosas vão se contorcer
É, a-ha-ha-ha
Dê meia volta
A-ha-ha-ha
Dê meia volta volver
HQs
Dei por mim lendo os meus velhos gibis da infância e babando pelo novo box de Calvin e Haroldo que vi na livraria. É que de repente olhei no espelho e percebi que não conheço bem a pessoa que tenho sido nos últimos tempos. Não sei se é porque não tenho sido eu ou se porque não me conheço, no fim das contas.
Você já sentiu que o corpo no qual está confinado subitamente lhe parece estranho, inapropriado? Você já bateu a porta atrás de sí e percebeu que o lugar onde se sente mais livre é um quarto trancado?
Dei por mim desejando ser criança, nem que só por alguns segundos, pra ter certeza de quem realmente sou. Lembrar da sensação de segurança quando eu pus uma chave na fechadura e girei pela primeira vez, como se também fechasse os problemas lá fora. Me peguei desejando que meu choro fosse por não querer a salada do prato ou por ter ralado o joelho enquanto descia a ladeira correndo. Houve um tempo em que você também acreditou que bater a canela na quina de um degrau era a pior dor do mundo? Isso foi antes de eu descobrir que em certos momentos a única coisa que promete resolver tudo é o sono. Sabe, eu queria tanto dormir...
Mas não posso. Hoje a noite olhou pra mim através das persianas e decidiu que seria ela mesma uma criança. Decidiu me condenar a observar por horas e horas enquanto brinca com as sombras da parede e zomba da minha incapacidade de sorrir quando convém ao mundo.
Só respire. Respire até perder a conta, como quando não sabe mais quantos copos já virou. "Prontos ou não, lá vou eu". Tudo o que eu queria era dormir, sabendo que seja lá o que eu fiz de errado vai ser esquecido durante a madrugada e não haverão multidões com tochas pedindo a minha cabeça amanhã de manhã.
Mas que bobagem. A brincadeira há tempos transformou-se num jogo, sem que eu percebesse. Está na minha vez, mas eu não quero apostar tudo na sorte de um dado mal-virado. Da pra entender? Alguém me ensina a dormir?
Você já sentiu que o corpo no qual está confinado subitamente lhe parece estranho, inapropriado? Você já bateu a porta atrás de sí e percebeu que o lugar onde se sente mais livre é um quarto trancado?
Dei por mim desejando ser criança, nem que só por alguns segundos, pra ter certeza de quem realmente sou. Lembrar da sensação de segurança quando eu pus uma chave na fechadura e girei pela primeira vez, como se também fechasse os problemas lá fora. Me peguei desejando que meu choro fosse por não querer a salada do prato ou por ter ralado o joelho enquanto descia a ladeira correndo. Houve um tempo em que você também acreditou que bater a canela na quina de um degrau era a pior dor do mundo? Isso foi antes de eu descobrir que em certos momentos a única coisa que promete resolver tudo é o sono. Sabe, eu queria tanto dormir...
Mas não posso. Hoje a noite olhou pra mim através das persianas e decidiu que seria ela mesma uma criança. Decidiu me condenar a observar por horas e horas enquanto brinca com as sombras da parede e zomba da minha incapacidade de sorrir quando convém ao mundo.
Só respire. Respire até perder a conta, como quando não sabe mais quantos copos já virou. "Prontos ou não, lá vou eu". Tudo o que eu queria era dormir, sabendo que seja lá o que eu fiz de errado vai ser esquecido durante a madrugada e não haverão multidões com tochas pedindo a minha cabeça amanhã de manhã.
Mas que bobagem. A brincadeira há tempos transformou-se num jogo, sem que eu percebesse. Está na minha vez, mas eu não quero apostar tudo na sorte de um dado mal-virado. Da pra entender? Alguém me ensina a dormir?
Toscana
Podíamos ser nós dois naquela encardida escadaria de igreja, como tantos outros devem ter sido a 1500 anos atrás. Podíamos ter sido dois a sentar no píer e mordiscar a ponta dos pés no lago da cor dos seus olhos.
Podíamos ser nós segurando o balão no meio da praça, como mágico e ajudante, e deixando que voasse pelos ares, subindo cada vez mais rápido. Até se transformar em estrela incandescente no meio de tantas outras no céu da toscana.
Depois vê-lo apagar-se e despencar do alto, esquadrinhando o anil com os olhos aa procura de seu rastro. Correr de mãos dadas, como duas crianças, para chegar no seu lugar de descanso final. Uma euforia só, como se armação de papel fosse pote de ouro no fim do arco-íris.
Apenas meio conscientes de que o verdadeiro tesouro estaria bem entre nossos dedos.
Podíamos ser nós segurando o balão no meio da praça, como mágico e ajudante, e deixando que voasse pelos ares, subindo cada vez mais rápido. Até se transformar em estrela incandescente no meio de tantas outras no céu da toscana.
Depois vê-lo apagar-se e despencar do alto, esquadrinhando o anil com os olhos aa procura de seu rastro. Correr de mãos dadas, como duas crianças, para chegar no seu lugar de descanso final. Uma euforia só, como se armação de papel fosse pote de ouro no fim do arco-íris.
Apenas meio conscientes de que o verdadeiro tesouro estaria bem entre nossos dedos.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Detalhes
Dando nó em talo de cereja
Desviando o seu olhar
Já não sabe
Que isso não vai prestar?
Dando nó nos fios do meu cabelo
Brinca entre os seus dedos
Já não sei mais
Controlar os desejos
Tropeço pra não ver
Desisto de entender
No estilo auto-sabotagem
Confundo sim ou não
Não faço mais questão
Respirar é só detalhe
Me perco entre os becos da memória
Esqueço os assuntos de história
Veneno de rato
Começando com o pé esquerdo
Mendigando um tostão
E as migalhas
Da sua atenção
Descontando a raiva num vespeiro
Já não sinto mais a dor
A cereja
Já se estragou
Tropeço pra não ver
Desisto de entender
No estilo auto-sabotagem
Confundo sim ou não
Não faço mais questão
Respirar é só detalhe
E com vontade de fazer bobagem
Tento te passar uma mensagem
Veneno de cobra
Tropeço pra não ver
Desisto de entender
No estilo auto-sabotagem
Confundo sim ou não
Não faço mais questão
Respirar é só detalhe
E com vontade de fazer besteira
Toda brincadeira é meio verdadeira
Veneno é sarcasmo
Veneno é sarcasmo
Lapso
Pode-se dizer que eu quero tomar duas taças de vinho caro e espumante e observar campos de girassóis. Olhando mais a fundo, porém o que eu queria era detonar uma garrafa de vodka pra nem ter de me preocupar em como dormir. Numa terceira instância, já mais sincera, diria-se que eu quero sentar naqueles banquinhos de jardim e fumar uns cigarros.
Seria, ainda, tudo inútil, Porque na minha camada mais funda de carne, o que eu quero é você.
(De preferência com sorvete.)
Seria, ainda, tudo inútil, Porque na minha camada mais funda de carne, o que eu quero é você.
(De preferência com sorvete.)
V de Começo
Eu errei. A palavra que eu queria dizer em francês não era luxúria. Não é desejo, somente, não é a necessidade que passa com um orgasmo e alguns suspiros. É só que eu adoro tudo a seu respeito, mesmo os seus silêncios quando pensa em vôos rasantes e penas de pássaros. Sabe, eu podia ser uma quimera e voar ao seu lado. Pelo começo do pensamento que me trouxe aqui, eu amo o seu pai. Amo sua irmã e até os seus irmãos que não conheço. Amo seu tio e até sua mãe e seus avós. Adoro sua casa, sua guitarra e seu estalar de dedos. Não gosto dos seus amigos, mas amo-nos porque são seus. Gosto dos seus ossos e de todas as outras coisas que sempre comento e que você já sabe. A pele, a boca, os olhos, as mãos, o sinal, os cabelos, o olhar de criança que foi pega roubando um biscoito. Eu amaria estar nua com você, fazer sexo e amor a noite toda, até amanhecer, até não aguentar mais. Eu adoraria ser sua, toda sua, só sua, em qualquer lugar. Eu gostaria do meu jeito desengonçado se ele te fizesse me notar. Eu gostaria dos meus poemas se eles te tocassem. Eu adoraria meu cabelo, ombros e pernas se te dessem vontade de ME tocar. E sim, eu acho que me amaria se você me amasse. E te amaria ainda mais por me amar. Eu amaria minha boca se você a beijasse com a sua e amaria meu cheiro se ele se misturasse com o seu, numa confusão de hormônios e feromônios e suor. Eu provavelmente nem sei ainda o que é amor, mas acho que ninguém sabe direito.. Amo, amo, amo você e o homem velho do seu sobrenome. Vem comigo que eu te ensino o melhor jeito que eu conheço de voar. Não, não faz mal chamar isso aqui de amor, principalmente se eu disser em francês.
Roteiro
Meu nome é falta de sono
E como se isso não bastasse
Filosofias de vida
Se esvaem pelo ralo da pia
Eu vou ficando mais ácida
Dia após dia
Me deixe escorrer
Isso não foi um pedido
Eu levo você pro inferno comigo
O mundo dá voltas
É como um ponteiro
Você logo-logo decora o roteiro
Me deixe sonhar
Eu corro enquanto durmo
Fujo do meu pesadelo diurno
Eu bato de frente
Mentir é pros fracos
Só vou recolhendo e colhendo meus cacos
Meu nome é falta de tempo
E mesmo se ele me sobrasse
Eu tenho ansiedade
Vazio de vontade
Não conto tanto com a sorte
Meu bom humor é tempestade
Céu escuro de dia
Eu sou uma simpatia
Me deixe escorrer
Isso não foi um pedido
Eu levo você pro inferno comigo
O mundo dá voltas
É como um ponteiro
Você logo-logo decora o roteiro
Me deixe sonhar
Eu corro enquanto durmo
Fujo do meu pesadelo diurno
Eu bato de frente
Mentir é pros fracos
Só vou recolhendo e colhendo meus cacos
E como se isso não bastasse
A rotina me corrói
Meu deus, como dói
Filosofias de vida
Se esvaem pelo ralo da pia
Eu vou ficando mais ácida
Dia após dia
Me deixe escorrer
Isso não foi um pedido
Eu levo você pro inferno comigo
O mundo dá voltas
É como um ponteiro
Você logo-logo decora o roteiro
Me deixe sonhar
Eu corro enquanto durmo
Fujo do meu pesadelo diurno
Eu bato de frente
Mentir é pros fracos
Só vou recolhendo e colhendo meus cacos
Meu nome é falta de tempo
E mesmo se ele me sobrasse
Eu tenho ansiedade
Vazio de vontade
Não conto tanto com a sorte
Meu bom humor é tempestade
Céu escuro de dia
Eu sou uma simpatia
Me deixe escorrer
Isso não foi um pedido
Eu levo você pro inferno comigo
O mundo dá voltas
É como um ponteiro
Você logo-logo decora o roteiro
Me deixe sonhar
Eu corro enquanto durmo
Fujo do meu pesadelo diurno
Eu bato de frente
Mentir é pros fracos
Só vou recolhendo e colhendo meus cacos
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Com Seus Malabares
Por favor, não me olhe assim. Você sabe, hoje em dia não se pode mais confiar em nada e nem ninguém e a qualquer momento algo pode vir da escuridão pelo ponto cego do retrovisor. No fundo eu pude ver em seus olhos que essa não era a intenção. Era só mais um dia duro e, afinal, estamos todos na luta, não é mesmo? Mas tente entender que não estava em minhas mãos decidir ficar, muito menos confiar.
Fui impulsionada para a frente, num arranque estridente, passando pra trás o sinal vermelho e a sua silhueta cansada e desprezada. Pedi desculpas silenciosas naquele encontro fugaz de olhos, ambos assustados. Esperei que os sinais chegassem até você, na esperança de não receber esse olhar a me encarar com mágoa.
Como mostrar em poucos segundos, por detrás de uma parede de vidro, que eu não pensei aquilo de você? Juro que não! Mas eu simplesmente não podia arriscar tanta coisa numa mera certeza. Mera, sim, parca! De que valem as certezas nos dias de hoje? Elas escapam e escorrem por entre os dedos como água sujismunda.
A única coisa a fazer era esperar que você entendesse acreditasse que não era a minha intenção pisar ou sentir nojo. Nunca. Eu queria apenas me proteger. Por isso, por favor, só não me olhe assim.
Fui impulsionada para a frente, num arranque estridente, passando pra trás o sinal vermelho e a sua silhueta cansada e desprezada. Pedi desculpas silenciosas naquele encontro fugaz de olhos, ambos assustados. Esperei que os sinais chegassem até você, na esperança de não receber esse olhar a me encarar com mágoa.
Como mostrar em poucos segundos, por detrás de uma parede de vidro, que eu não pensei aquilo de você? Juro que não! Mas eu simplesmente não podia arriscar tanta coisa numa mera certeza. Mera, sim, parca! De que valem as certezas nos dias de hoje? Elas escapam e escorrem por entre os dedos como água sujismunda.
A única coisa a fazer era esperar que você entendesse acreditasse que não era a minha intenção pisar ou sentir nojo. Nunca. Eu queria apenas me proteger. Por isso, por favor, só não me olhe assim.
Succubus
Por sua causa eu deixaria de beber, nunca mais botaria um cigarro na boca ou mesmo uma lâmina na pele. Eu tomaria sol pra suprir as deficiências de vitamina e parava com o Panax, porque teria toda a energia que preciso da alegria de te ver. Desistiria do inferno. Me embebedaria todo dia apenas com o oceano dos seus olhos e só encheria meus pulmões com o veneno da sua respiração
Os jogos de sedução perderiam toda a graça e sua crueldade teria fim, pois meus Succubus estariam satisfeitos, ninando ao som da tua voz. E o cheiro. Sempre. Aquele cheiro, o seu cheiro, o nosso cheiro; um feromônio melhor do que qualquer perfume que eu pudesse comprar ou tomar ou engolir ou mesmo quebrar no chão, de raiva
De raiva porque, não! Meus demônios estão soltos e transbordam por meus poros, enlouquecidos. Da boca pinga o vermelho do batom e esgueira-se pelo canto todo o charme de um sorriso de desdém. Saio no meu cavalo negro, por aí, na noitada. Me acabando de rir e cheirando a desejo, sugo o sangue dos meninos... E das meninas que eu vejo.
Hino Nacional
Queremos domingão de sol
Cerva, pagode e futebol
Nadar no lixo do canal
Queremos pagar de otários
Bater palma pra ordinários
Cantar o Hino Nacional
Do reino das crianças desnutridas
Das patroas mal comidas
Dos pastores de mansão
O reino dos palhaços demagogos
Que abraçam o seu povo só em tempo de eleição
Queremos mais educação
Mas antes tem brasileirão
Viva a copa do mundo
Abram alas pra Mangueira
Nepotismo é brincadeira
E o buraco é bem mais fundo
Na terra do samba de avenida
Da mulata oferecida
Digam: Aleluia, irmão!
O reino dos palhaços demagogos
Que se esquecem do seu povo
Até o ano de eleição
Cerva, pagode e futebol
Nadar no lixo do canal
Queremos pagar de otários
Bater palma pra ordinários
Cantar o Hino Nacional
Do reino das crianças desnutridas
Das patroas mal comidas
Dos pastores de mansão
O reino dos palhaços demagogos
Que abraçam o seu povo só em tempo de eleição
Queremos mais educação
Mas antes tem brasileirão
Viva a copa do mundo
Abram alas pra Mangueira
Nepotismo é brincadeira
E o buraco é bem mais fundo
Na terra do samba de avenida
Da mulata oferecida
Digam: Aleluia, irmão!
O reino dos palhaços demagogos
Que se esquecem do seu povo
Até o ano de eleição
Recaída/Voar
Estava lá, amarrada por questão de segurança e morrendo de medo de todas as coisas que podiam acontecer. Onde estava com a cabeça? Resisti ao impulso de desatar todas as fivelas e correr para longe do planador. Começamos a andar pela pista de aceleração, chacoalhando a cada lombada que se projetava da terra imperfeita.
Quando atingiu-se a velocidade de voo, fomos largados no ar e eu não pude conter um grito de terror. Era como se duas toneladas de ar pressionassem meu peito com 200km/h de força. Conduzimos a máquina, pulando de termal em termal e a cidade foi descendo aos poucos sob meus pés.
No momento em que minha adrenalina baixou e olhei pra fora foi que finalmente ficou claro o que acontecera: o mundo tinha ficado pra trás, perdido em algum lugar da superfície da Terra. À minha volta só se via o azul de um céu limpo e o melhor de tudo, o impagável: O silêncio. Não se escutava nada além do ar que batia constantemente por todo o meu corpo. Nada de motor, de buzinas, de anúncios publicitários...
Eu finalmente entendi como era se sentir um pássaro. Era o mais próximo que eu havia chegado do paraíso e queria ficar lá pra sempre. Não queria voltar pra sociedade barulhenta, com seus gritos e calombos. Queria voar.
Quando atingiu-se a velocidade de voo, fomos largados no ar e eu não pude conter um grito de terror. Era como se duas toneladas de ar pressionassem meu peito com 200km/h de força. Conduzimos a máquina, pulando de termal em termal e a cidade foi descendo aos poucos sob meus pés.
No momento em que minha adrenalina baixou e olhei pra fora foi que finalmente ficou claro o que acontecera: o mundo tinha ficado pra trás, perdido em algum lugar da superfície da Terra. À minha volta só se via o azul de um céu limpo e o melhor de tudo, o impagável: O silêncio. Não se escutava nada além do ar que batia constantemente por todo o meu corpo. Nada de motor, de buzinas, de anúncios publicitários...
Eu finalmente entendi como era se sentir um pássaro. Era o mais próximo que eu havia chegado do paraíso e queria ficar lá pra sempre. Não queria voltar pra sociedade barulhenta, com seus gritos e calombos. Queria voar.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
F.C.D.R.
Corro em passos largos
Pra qualquer outro lugar
Minhas asas brancas
Se desmancham pelo chão
Já que tudo passa
E que o meu mundo virou pó
Já que a lua nunca
Vai caber na minha mão
Corro em pés descalços
Não espero me encontrar
Tudo é muito pouca coisa
Em comparação
Já que em meio a todo mundo
Eu sempre fico só
Sinto o ar da noite
Invadir o meu pulmão
Ela é como um corvo
E o seu canto me persegue
Pousa no meu ombro
E eu já não me sinto leve
Quero só fazer de conta
Por um tempo breve
Isso só já basta
Eu viro F.C.D.R.
As paredes caem
Pra deixar a chuva entrar
Quero acreditar
No que o mundo me promete
Já que eu sinto dor
E isso me torna mais real
Já que meu messias
Se matou aos vinte e sete
Ela é como um corvo
E o seu canto me persegue
E eu já não me sinto leve
Quero só fazer de conta
Por um tempo breve
Isso me convence
Eu viro F.C.D.R.
domingo, 13 de maio de 2012
Bom Motivo
Se olha no espelho
E não percebe que sumiu
Vai se equilibrando
Caminhando por um fio
Escute mais a letra
A melodia é tão feliz
Que acaba disfarçando
A muita coisa que se diz
Rode, rode, rode
Meu amor, esse é o seu samba
E cada passo em falso
É uma chance que se ganha
Pode se embolar
Que já chegou a sua hora
Você bebeu demais
E se esqueceu de ir embora
Não fale do futuro
Das escolhas, das besteiras
Que de cima do muro
Eu vejo muito mais estrelas
Balance seu chocalho
Se isso já virou mania
Não vá se esquecer
Que todo mundo morre um dia
Me dê um bom motivo
Que me faça acreditar
Não vou te dar meu copo
Pra você envenenar
Me dê um bom motivo
Vá, me faça acreditar
Não vou te dar meu copo
Pra você envenenar
Rode, rode, rode
Meu amor, esse é o seu samba
E cada passo em falso
É uma chance que se ganha
Pode se embolar
Que já chegou a sua hora
Você bebeu demais
E se esqueceu de ir embora
E não percebe que sumiu
Vai se equilibrando
Caminhando por um fio
Escute mais a letra
A melodia é tão feliz
Que acaba disfarçando
A muita coisa que se diz
Rode, rode, rode
Meu amor, esse é o seu samba
E cada passo em falso
É uma chance que se ganha
Pode se embolar
Que já chegou a sua hora
Você bebeu demais
E se esqueceu de ir embora
Não fale do futuro
Das escolhas, das besteiras
Que de cima do muro
Eu vejo muito mais estrelas
Balance seu chocalho
Se isso já virou mania
Não vá se esquecer
Que todo mundo morre um dia
Me dê um bom motivo
Que me faça acreditar
Não vou te dar meu copo
Pra você envenenar
Me dê um bom motivo
Vá, me faça acreditar
Não vou te dar meu copo
Pra você envenenar
Rode, rode, rode
Meu amor, esse é o seu samba
E cada passo em falso
É uma chance que se ganha
Pode se embolar
Que já chegou a sua hora
Você bebeu demais
E se esqueceu de ir embora
Around the Corner
Darling, I think I don't like you
But is there a problem if I have some fun
I don't care what I'll become
She wears a nice summer dress
She's drinking to lighten all the stress
My heart goes racing in my chest
And I'm like
La la la la la, will you dance with me?
We go round around the corner, I could me discreet
Baby, baby, dance with me
The world is far away, you see
Darling, it's a random party
But I've seen pretty boys around
Step by step they chase me down
She might kill me with that look
Asking me what could go wrong
It's getting harder to be strong
And I'm like
La la la la la, will you dance with me?
We go round around the corner, I could be discreet
Baby, baby, dance with me
The world is far away, you see
But is there a problem if I have some fun
I don't care what I'll become
She wears a nice summer dress
She's drinking to lighten all the stress
My heart goes racing in my chest
And I'm like
La la la la la, will you dance with me?
We go round around the corner, I could me discreet
Baby, baby, dance with me
The world is far away, you see
Darling, it's a random party
But I've seen pretty boys around
Step by step they chase me down
She might kill me with that look
Asking me what could go wrong
It's getting harder to be strong
And I'm like
La la la la la, will you dance with me?
We go round around the corner, I could be discreet
Baby, baby, dance with me
The world is far away, you see
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Inconscientemente Cherry
Bom, eu não queria dizer... Meio constrangedor, entende? Mas você sabe. No fundo do cérebro, na lembrança de um pesadelo esquisito da infância, você sabe muito bem. Ela existe lá dentro; talvez entre duas costelas ou, quem sabe, na ponta do dedo do meio.
É uma coisinha minúscula, gelada, que arranha a parede dos ossos com pequenas unhas de mármore branco. É um barulhinho, uma correntinha de ouro roçando no fundo da piscina. Simplesmente desesperador. Como aquela vozinha aguda de passarinho que só se escuta pelo canto das orelhas, a uns 87 graus, mais ou menos. Você lembra desse sonho. É certo, como o dia depois da noite, que o pio de canarinho engrossa e se torna uma voz grave e macia que vai te devorar e quebrar sua alma em duas.
A coisinha também vai partir seu espírito. Ela é como o sonho, mas continua lá, PRINCIPALMENTE quando você acorda. Ela vai descascando seus ossos e furando seus pulmões com as unhas postiças de mármore e vai derreter toda a gentileza com sua saliva ácida que cai, gota a gota, no pequeno jardim de jasmin que você trancou no armário da memória.
Ah, coisinha odiosa! Você também tem uma? Ela é do tamanho de uma aranhazinha; menos que uma viúva negra, mas tão letal quanto. Talvez mais. Tece sua teia pelas minhas vísceras, põe uma lente de aumento nas vizarrices dos meus pesadelos mais obscuros e torna meus melhores desejos realidade, só em sonhos, para que eu queira morrer toda vez que acordo.(Não nade de costas. Só não nade de costas!)
Ela mesma se odeia, a coisinha. Me grita por entorpecentes, mas não há nada que eu possa lhe dar que seja mais venenoso que seu póroprio néctar vermelho, sua calda de cereja. Oh, Cherry, Cherry... É como estou pensando em chamá-la, a minha pequena, minha criaturinha feita de sete pecados capitais e pó. Porque é ao pó que todos voltamos todas as noites.
Sonhe com flores, sonhe com borboletas. Boa noite, gatinho.
É uma coisinha minúscula, gelada, que arranha a parede dos ossos com pequenas unhas de mármore branco. É um barulhinho, uma correntinha de ouro roçando no fundo da piscina. Simplesmente desesperador. Como aquela vozinha aguda de passarinho que só se escuta pelo canto das orelhas, a uns 87 graus, mais ou menos. Você lembra desse sonho. É certo, como o dia depois da noite, que o pio de canarinho engrossa e se torna uma voz grave e macia que vai te devorar e quebrar sua alma em duas.
A coisinha também vai partir seu espírito. Ela é como o sonho, mas continua lá, PRINCIPALMENTE quando você acorda. Ela vai descascando seus ossos e furando seus pulmões com as unhas postiças de mármore e vai derreter toda a gentileza com sua saliva ácida que cai, gota a gota, no pequeno jardim de jasmin que você trancou no armário da memória.
Ah, coisinha odiosa! Você também tem uma? Ela é do tamanho de uma aranhazinha; menos que uma viúva negra, mas tão letal quanto. Talvez mais. Tece sua teia pelas minhas vísceras, põe uma lente de aumento nas vizarrices dos meus pesadelos mais obscuros e torna meus melhores desejos realidade, só em sonhos, para que eu queira morrer toda vez que acordo.(Não nade de costas. Só não nade de costas!)
Ela mesma se odeia, a coisinha. Me grita por entorpecentes, mas não há nada que eu possa lhe dar que seja mais venenoso que seu póroprio néctar vermelho, sua calda de cereja. Oh, Cherry, Cherry... É como estou pensando em chamá-la, a minha pequena, minha criaturinha feita de sete pecados capitais e pó. Porque é ao pó que todos voltamos todas as noites.
Sonhe com flores, sonhe com borboletas. Boa noite, gatinho.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Pela metade
Eu já nem sei
Se devia cantar
Sobre essas coisas todas
Soltas pelo ar
Se eu já tentei
O que tem pra fazer
Eu só queria me deitar
E derreter
É tão difícil ser de verdade
Se tudo em volta é só jogo de imagem
É tão difícil falar a verdade
Se todo mundo diz pela metade
Eu preferi
Só olhar de fora
Mas não cheguei a esquecer
Como se joga
Mostre as suas fichas, eu tenho um Az
Eu sei bem como se faz
Meu rei combina com o seu
Agora quem não quer sou eu
Eu já nem sei
Se devia cantar
Sobre essas coisas todas
Soltas pelo ar
Eu vou contar
Meus distúrbios mentais
Desenterrar o que eu já quis
Deixar pra trás
É tão difícil ser de verdade
Se tudo em volta é só jogo de imagem
É tão difícil falar a verdade
Se todo mundo diz pela metade
Nem vou dizer
O que eu sei de você
Pra não deixar o meu
Veneno escorrer
Mostre as suas fichas, eu tenho um Az
Eu sei bem como se faz
Meu rei combina com o seu
Agora quem não quer sou eu
Já se acabou a paciência
Você insulta a minha inteligência
Se devia cantar
Sobre essas coisas todas
Soltas pelo ar
Se eu já tentei
O que tem pra fazer
Eu só queria me deitar
E derreter
É tão difícil ser de verdade
Se tudo em volta é só jogo de imagem
É tão difícil falar a verdade
Se todo mundo diz pela metade
Eu preferi
Só olhar de fora
Mas não cheguei a esquecer
Como se joga
Mostre as suas fichas, eu tenho um Az
Eu sei bem como se faz
Meu rei combina com o seu
Agora quem não quer sou eu
Eu já nem sei
Se devia cantar
Sobre essas coisas todas
Soltas pelo ar
Eu vou contar
Meus distúrbios mentais
Desenterrar o que eu já quis
Deixar pra trás
É tão difícil ser de verdade
Se tudo em volta é só jogo de imagem
É tão difícil falar a verdade
Se todo mundo diz pela metade
Nem vou dizer
O que eu sei de você
Pra não deixar o meu
Veneno escorrer
Mostre as suas fichas, eu tenho um Az
Eu sei bem como se faz
Meu rei combina com o seu
Agora quem não quer sou eu
Já se acabou a paciência
Você insulta a minha inteligência
X e Y
Tento me engolir, no intuito de matar a fome do imenso abismo que se abriu em algum lugar entre minha garganta e estômago. Ele está simplesmente faminto e todos os doces que lhe atiro nem chegam a ocupar o espaço entre seus enormes dentes, que arranham e violam a si mesmos constantemente.
Como uma droga, o cheiro das coisas erradas que fiz infesta meu sangue e circula por mim. Inspiro fundo, o aroma impregnado em minhas mãos e roupas flui para dentro e de novo pra fora. Faço isso mil vezes, mas são como x e y de um quadro negro que só vão me distrair por alguns minutos.
Um outro cheiro, aquele cheiro, o nosso cheiro é tudo o que procuro. Aonde foi aquele pedaço de paraíso que alimentava o monstro e transformava os dentes famintos em tardes de dérias? Por favor, faça com que pare! Faça eles pararem de me dilacerar! Onde está você? Onde estamos nós? Existe alguma coisa no mundo que tampe a boca do abismo que me devora aos poucos, todo dia, toda vez que me lembro?
I never told you
But is more than that
Just more than what you think
How could you just not see
That I'm special too
And that you're just like me?
Como uma droga, o cheiro das coisas erradas que fiz infesta meu sangue e circula por mim. Inspiro fundo, o aroma impregnado em minhas mãos e roupas flui para dentro e de novo pra fora. Faço isso mil vezes, mas são como x e y de um quadro negro que só vão me distrair por alguns minutos.
Um outro cheiro, aquele cheiro, o nosso cheiro é tudo o que procuro. Aonde foi aquele pedaço de paraíso que alimentava o monstro e transformava os dentes famintos em tardes de dérias? Por favor, faça com que pare! Faça eles pararem de me dilacerar! Onde está você? Onde estamos nós? Existe alguma coisa no mundo que tampe a boca do abismo que me devora aos poucos, todo dia, toda vez que me lembro?
I never told you
But is more than that
Just more than what you think
How could you just not see
That I'm special too
And that you're just like me?
Perfume (ft. Tom Nobre)
Meus dias têm sido salgados
Minhas noites têm sido assombradas por açoites
De lembranças que já foram tão doces
Mas que agora só servem pra me amargurar
Minhas tardes têm sido vazias
Minhas noites tão frias são só sombras das lembranças
Que o tempo perdido me obriga a esquecer
Na medida em que ele passa e eu me deixo envenenar por você
Por você...
Então,
Quebre as nossas juras
Esqueça a minha mão na sua blusa
Devolva o meu anel que você usa
Vista a sua roupa de viúva
E me mate em você
Eu tenho passado por certos problemas
Estanco os meus versos ainda abertos
E cheios das rimas que eu fiz pra você
No meu poema sangrento que não para mais de doer
Eu tenho estancado o meu sangue com páginas
Ocupo a minha mente com futilidades
Que me afastam de tudo o que eu quero
E espero que possa voltar
Quebre as nossas juras
Esqueça a minha mão na sua blusa
Devolva o meu anel que você usa
Vista a sua roupa de viúva
E me mate em você
... Não quero te botar nessa posição
Mas se você faz toda essa questão, então...
Minhas noites têm sido assombradas por açoites
De lembranças que já foram tão doces
Mas que agora só servem pra me amargurar
Minhas tardes têm sido vazias
Minhas noites tão frias são só sombras das lembranças
Que o tempo perdido me obriga a esquecer
Na medida em que ele passa e eu me deixo envenenar por você
Por você...
Então,
Quebre as nossas juras
Esqueça a minha mão na sua blusa
Devolva o meu anel que você usa
Vista a sua roupa de viúva
E me mate em você
Eu tenho passado por certos problemas
Estanco os meus versos ainda abertos
E cheios das rimas que eu fiz pra você
No meu poema sangrento que não para mais de doer
Eu tenho estancado o meu sangue com páginas
Ocupo a minha mente com futilidades
Que me afastam de tudo o que eu quero
E espero que possa voltar
Quebre as nossas juras
Esqueça a minha mão na sua blusa
Devolva o meu anel que você usa
Vista a sua roupa de viúva
E me mate em você
... Não quero te botar nessa posição
Mas se você faz toda essa questão, então...
If you have a minute (why don't we go?)
O telhado não é só um amontoado de telhas que protege o andar de baixo da chuva. É o "lugar que só a gente conhece": uma caixa de segredos fechada para o mundo de terra e gente, mas aberta para as estrelas e o infinito de cima e de dentro. É cheio de páginas de História e bitucas de cigarro, infestadas de lembranças e emoções que escorrem como cerveja derramada por entre as telhas.
Nada precisa ser bom ou eficiente, mas tudo é maravilhoso e mágico como uma caixa de músicas. É onde estão impressas todas as minhas coisas favoritas. Como uma Nárnia minúscula, decadente e bela, por onde se entra saindo pela janela.
É o lugar de onde eu pulo todas as vezes que suicido, é onde eu quero ficar para sempre. Mas sempre sabemos o momento de sair. São três paredes, uma alma (ou duas), milhares de telhas de cerâmica e o mundo particular. É o telhado.
Nada precisa ser bom ou eficiente, mas tudo é maravilhoso e mágico como uma caixa de músicas. É onde estão impressas todas as minhas coisas favoritas. Como uma Nárnia minúscula, decadente e bela, por onde se entra saindo pela janela.
É o lugar de onde eu pulo todas as vezes que suicido, é onde eu quero ficar para sempre. Mas sempre sabemos o momento de sair. São três paredes, uma alma (ou duas), milhares de telhas de cerâmica e o mundo particular. É o telhado.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Cadáveres de Pipa
Passo em alta velocidade pela avenida ao lado do mar. É um fim de tarde de domingo e os fios elétricos enrolados por cadáveres de pipas completam o cenário melancólico que antecede outra segunda-feira. As ondas ainda se mexem da mesma maneira e a luminosidade do dia também é mais ou menos o que sempre foi por todos esses anos. Mas nada está igual.
Me pergunto quando foi que isso tudo ficou tão sério, quando as coisas deixaram de ser só uma brincadeira e passaram a ser reais. Quando foi que os anos aceleraram a passar e me deixaram no banco de trás de um carro chique, andando a toda velocidade em direção ao futuro. Ao MEU futuro, a um amanhã de que nem pistas tenho.
Chegou o tempo das nossas vidas e percebi que ele é escasso demais para todas as promessas de glamour e juventude que um dia eu vi num programa de TV. Tenho medo de que esse seja o ápice e eu nada tenha percebido; tenho medo de que esse seja o ápice e que, daqui pra frente, seja só ladeira abaixo.
Não quero arrumar um emprego pra me casar, ter filhos e viver o resto da vida numa estação decadente, esperando por um trem que jamais vai me levar para a Terra do Nunca. "Com a boca escancarada e cheia de dentes, esperando a morte chegar". Não quero olhar para a minha realidade e ver que o vento parou de soprar, ver que minha alegria, vontade e juventude secaram e enrolaram-se encarquilhadas num canto, como os cadáveres de pipa em fios elétricos num fim de tarde de domingo.
Me pergunto quando foi que isso tudo ficou tão sério, quando as coisas deixaram de ser só uma brincadeira e passaram a ser reais. Quando foi que os anos aceleraram a passar e me deixaram no banco de trás de um carro chique, andando a toda velocidade em direção ao futuro. Ao MEU futuro, a um amanhã de que nem pistas tenho.
Chegou o tempo das nossas vidas e percebi que ele é escasso demais para todas as promessas de glamour e juventude que um dia eu vi num programa de TV. Tenho medo de que esse seja o ápice e eu nada tenha percebido; tenho medo de que esse seja o ápice e que, daqui pra frente, seja só ladeira abaixo.
Não quero arrumar um emprego pra me casar, ter filhos e viver o resto da vida numa estação decadente, esperando por um trem que jamais vai me levar para a Terra do Nunca. "Com a boca escancarada e cheia de dentes, esperando a morte chegar". Não quero olhar para a minha realidade e ver que o vento parou de soprar, ver que minha alegria, vontade e juventude secaram e enrolaram-se encarquilhadas num canto, como os cadáveres de pipa em fios elétricos num fim de tarde de domingo.
Just Breathe
My eyes ain't that great anymore
I swallowed my pride
Like I wouldn't before
Waking up at 4 a.m.
My bed spits me off
And I can't sleep again
(they say)
"Just breathe, just breathe
'Cause it will be alright
Just breathe, just breathe
And don't turn on the light"
My words make no sense nowadays
But I'm not even drunk
I hear what he says
I don't wanna be so controled
And don't try to stop me
I'll make it explode
(they say)
"Just breathe, just breathe
Don't burn everyone out
Just breathe, just breathe
Don't be angry, don't shout"
I don't wanna feel anymore
I'm shutting my chest up
Becoming a whore
Be mine, let me own you today
But, darling, tomorrow
I won't know your name
Well, well, hell
Stop, stop
Whispering in my ear
I don't wana know, no!
I don't wanna hear
Don't want to be good
Want to run, want to scream
Yes, I know how I look
But I'm not what I seem
To be
I wanna beg for you, but I won't
I wanna, I wanna punch your face
But I don't
I swallowed my pride
Like I wouldn't before
Waking up at 4 a.m.
My bed spits me off
And I can't sleep again
(they say)
"Just breathe, just breathe
'Cause it will be alright
Just breathe, just breathe
And don't turn on the light"
My words make no sense nowadays
But I'm not even drunk
I hear what he says
I don't wanna be so controled
And don't try to stop me
I'll make it explode
(they say)
"Just breathe, just breathe
Don't burn everyone out
Just breathe, just breathe
Don't be angry, don't shout"
I don't wanna feel anymore
I'm shutting my chest up
Becoming a whore
Be mine, let me own you today
But, darling, tomorrow
I won't know your name
Well, well, hell
Stop, stop
Whispering in my ear
I don't wana know, no!
I don't wanna hear
Don't want to be good
Want to run, want to scream
Yes, I know how I look
But I'm not what I seem
To be
I wanna beg for you, but I won't
I wanna, I wanna punch your face
But I don't
Acho que você entendeu
De mãos dadas com a mãe, Anne cruzou o jardim dos Emmerich sem grandes problemas. À porta estava o mordomo, pronto para receber os chapéus e casacos e indicar-lhes o caminho da sala de estar. A residência Emmerich era suntuosa mansão de paredes sólidas e ricamente enfeitadas com todas as bugigangas de luxo que aprouviam a uma moradia de elite. À medida que avançavam pelo corredor atrás do mordomo, porém, os batimentos de Anne aceleravam por motivos que nada tinham a ver com as pinturas emolduradas na parede. Era, todavia, uma ansiedade diferente da que sentia quando estava do lado de fora.
"Vou cuspir minhas entranhas." pensou a menina, momentos antes de cruzar a porta para encontrar os anfitriões. Mas ela não cuspiu. Nada saiu da sua boca, aliás até que a senhora Emmerich lhes saudou com um abraço e ela se sentiu obrigada a balbuciar uma cortesia qualquer. O mundo havia desaparecido; na sua frente só havia um rosto que importava naquele momento. Alex. Anne viu-se sentando no sofá ao lado da mãe e aceitando uma xícara de chá como se estivesse no piloto automático.
"Está aqui, a menos de dois malditos metros!" pensava ela, a proximidade lhe tomando a atenção de todo o resto. "Acorde, Anne, não fique ai largada agindo como uma completa idiota descoordenada! Volte à realidade!" repreendeu-se, piscando os olhos e fazendo o melhor para entreter-se com a conversa.
"... E isso muito irrita a todos nós, principalmente ao Carlos. Parece que não se pode mais dirigir sem trombar com algum palerma que não sabe o que fazer ao volante." dizia Margaret, enquanto serviam-se de bolinhos doces.
"Absolutamente, absolutamente!" concordou a senhora Emmerich, a cabeça abanando em desaprovação. "Mas estas conversas aborrecidas de adultos não devem interessar aos jovens!" exclamou ela, voltando a atenção para as crianças "Alex, meu doce, por que não leva Anne lá pra cima e lhe mostra o teu quarto? Tenho certeza de que vão se divertir muito mais desenhando e conversando seus próprios assuntos."
O estômago de Anne deu uma volta. "Quarto com Alex. Quarto de Alex. Só nós." pensou ela. E antes que o cérebro processasse a informação foi interrompido pela resposta.
"Ótima ideia, mãe, certamente que vamos encontrar algo como que nos entreter." disse Alex, tomando Anne pelos braços antes que a menina pudesse soltar um suspiro.
Seguiram pelo corredor até a escada e subiram-na de braços dados, como um cavalheiro e uma dama. Anne sentia a pele queimar no lugar onde encostava na de Alex e na sua cabeça os pensamentos dançavam em torno das palavras, dando-lhes um tom sugestivo. "Vamos encontrar algo com o que nos entreter. Entreter. Ter."
As ideias ainda giravam pela mente dela quando depararam-se com a porta do quarto, que Alex abriu sem cerimônia. Entrou e sentou-se na cama, fazendo Anne sentar-se ao seu lado. O recinto não era cheio de decorações como o resto da casa, mas estava iluminado e as paredes estampavam um tom elegante de creme.
"E então, o que quer fazer?" perguntou Alex alegremente.
Anne não respondeu imediatamente. Podia sentir a respiração de Alex ao seu lado, o busto descendo e subindo suavemente. Então, estranhamente consciente dos vestidos que se roçavam, ela desviou os olhos das paredes e virou-se para mirar o rosto ao seu lado. Os olhos verdes que lhe encaravam de volta eram brilhantes e úmidos e demonstraram certa surpresa quando Anne pousou a mão sobre a palma fria e delicada da outra. Surpresa sim, mas não descontentamento.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Cigarros Argentinos
Dessa vez
Eu vou pular o verão
Pular as promessas
E a decepção
Dessa vez
Eu não vou me entregar
Com toda essa força
Vou desconfiar,
Escutar
Nossa música de novo
Mesmo aqui
Chamando de longe
Eu sinto no vento
Que você responde
Mesmo assim
Espere pra ver
São só mais uns dias
Depois vai ser eu
E você
E segredos no telhado
Não chora sem motivo
Que isso é coisa de menina
Cigarros argentinos
Meia-noite na piscina
Até o fogo do inferno apagar
Até a pilha do rádio acabar
Percebi
Que vou ter que checar
Todas as vezes
Antes de sentar
Tanto faz
O tamanho do sorriso
É sempre nos olhos
Que mora o perigo
E aceitar
Nunca foi uma escolha
Dessa vez
Eu vou mudar a versão
Do conto de fadas
Que joguei no chão
Dessa vez
Nós duas vai bastar
Pedir uma pizza
Comer de jantar
Escutar
Nossa música de novo
Não chora sem motivo
Que isso é coisa de menina
Cigarros argentinos
Meia-noite na piscina
Até o fogo do inferno apagar
Até a pilha do rádio acabar
Eu vou pular o verão
Pular as promessas
E a decepção
Dessa vez
Eu não vou me entregar
Com toda essa força
Vou desconfiar,
Escutar
Nossa música de novo
Mesmo aqui
Chamando de longe
Eu sinto no vento
Que você responde
Mesmo assim
Espere pra ver
São só mais uns dias
Depois vai ser eu
E você
E segredos no telhado
Não chora sem motivo
Que isso é coisa de menina
Cigarros argentinos
Meia-noite na piscina
Até o fogo do inferno apagar
Até a pilha do rádio acabar
Percebi
Que vou ter que checar
Todas as vezes
Antes de sentar
Tanto faz
O tamanho do sorriso
É sempre nos olhos
Que mora o perigo
E aceitar
Nunca foi uma escolha
Dessa vez
Eu vou mudar a versão
Do conto de fadas
Que joguei no chão
Dessa vez
Nós duas vai bastar
Pedir uma pizza
Comer de jantar
Escutar
Nossa música de novo
Não chora sem motivo
Que isso é coisa de menina
Cigarros argentinos
Meia-noite na piscina
Até o fogo do inferno apagar
Até a pilha do rádio acabar
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Wardrobe
I knew they'd tell you that it's cold outside
But you feel colder, colder, cold insideThat wooden door
And what it keeps behind
Don't you feel the creepy running down your spine?
Your arms are open, open, open wide
Why you so hurted?
There ain't no big surprise
He stole your lyrics and
What's left from your youth
You say you know that sound
You know you know the truth
"It's just a wardrobe" (x2)
Oh, mamma told you there's no wolf at all
But you can hear the footsteps at the hall
You know his eyes
Thoes golden yellow balls
Oh, now it's day again and no worries left
But this is not the kind of wolf that rests
He smiles at you
Because your head's his nest
He stole your lyrics and
What's left from your youth
You say you know that sound
You know you know thw truth
"It's just a wardrobe"...
Veneno
Olho-Vivo estava sentado na cadeira, a imagem mostrada na tela à sua frente estava congelada. Podia escutar os passos do Marechal Estrela, andando em círculos ao redor dele. Já tinha visto a cena incontáveis vezes e ainda não havia nada que pudesse fazer. 'O que está feito está feito' diria Pétrequis. Não poderia mudar isso, não importa quantas vezes assistisse a fita.
"Viu, Olho-Vivo? Conseguiu enxergar o que lhe pedi?" Perguntou o Marechal Estrela, a raiva cega lhe escapava pelos cantos da voz, disfarçada por uma grossa camada de calma cortês.
"Senhor, eu devo insistir.... Não há propósito, não há..." Começou Olho-Vivo, mas foi imediatamente interrompido.
"Não viu?" O Marechal mantinha a expressão impecavelmente alinhada. "Vamos assistir de novo." Disse, apertando um botão do controle. A cena recomeçou. "Vou dizer mais uma vez, Olho-Vivo. Quero que repare no timo, quero que repare NO MALDITO BRILHO NOS OLHOS!" Gritou, espancando Olho com a voz e as costas da mão.
"Senhor, eu... Eu já ví... Não há nada que se possa fazer agora. Me desculpe, Senhor, eu... Pétrequis diz sempre que não se pode mudar o que está feito." Balbuciou Olho-Vivo, suplicante.
"Oh, sim. Tenho certeza de que Pétrequis está certo. A merda está, de fato, feita." Estrela já quase não podia conter a ira. "E onde estava Pétrequis quando devia estar cuidando de VOCÊ?"
"Receio que ele estava com um projeto, Senhor. Aquele sobre..." Hesitou por um instante. "Sobe as torradas."
O Marechal soltou uma bufada de escárnio. " 'Por que as torradas têm gum gosto melhor que pão normal e o que o crunch tem a ver com isso?' ele pergunta... Já eu, EU pergunto o que fazer com uma razão que deixa o sentinela sozinho com a esperança." Largou o corpo remendado na grande poltrona vermelha e coçou o tapa-olho. A imagem da decepção ainda passava na tela. O resto do corpo estava dormitando, como todas as noites, mas o salão de audiência estava ativo, com suas cinco cadeiras, uma ocupada por Olho-Vivo e a poltrona por Estrela. Cérebro e Alma dormiam, sedados por sonhos, mas acordariam em poucas horas.
"Conte-me de novo o que aconteceu, Olho, e conte-me tudo." Disse o Marechal Estrela com uma voz cansada e impaciente. E Olho-Vivo contou.
"Eu estava em meu posto, senhor, estava acordado, ví todos os sinais e tomei nota. Eu ia prevenir a guarda de aço, juro que ia! Mas ela chegou, meu senhor, Moonie Verde, e sabe como ela é. Convenceu-me de que não era nada, disse que não valia à pena alertar a todos, que eram sinais falsos."
"Não é o seu trabalho julgar isso, Olho-Vivo." Repreendeu Estrela "Deixe isso comigo e com Pétrequis."
"Mas Pétrequis não estava lá, Senhor, como o senhor mesmo disse. Mas Moonie Verde estava e fez o que sempre faz."
O Marechal Estrela suspirou. Sabia o que tinha de ser feito, mas estava cansado e abatido e conhecia o procedimento doloroso para resolver tudo.
"Saia da minha frente, Olho, vá lavar o rosto e preparar-se para voltar ao posto." Disse o Marechal, mas quando Olho-Vivo levantou-se e fez menção de sair, completou "Antes, porém, faça com que Pétrequis pare de perseguir torradas e vá domar Moonie Verde... Sei como ela é necessária, mas agora preciso que ela DURMA."
Olho fez uma reverência e dirigiu-se para a saída da sala de audiência.
"E, Olho-Vivo, " Disse o Marechal Estrela "Diga a Veneno que quero falar com ele."
Os olhos de Olho-Vivo arregalaram-se tanto que quase tomaram o rosto todo. Sua boca moveu-se numa tentativa débil de protesto, mas Estrela não lhe deu chance de encontrar as palavras.
"Sabe tão bem quanto eu que não há alternativa." Disse "Todos sabemos que quando vocês cagam, quem tem que limpar é Veneno. Agora faça o que eu mandei."
Olho-Vivo assentiu e deixou o salão. Minutos depois a porta voltou a se abrir, dando passagem ao subordinado todo vestido de negro que atravessou a sala em passos firmes e pôs-se aos pés do Marechal.
"Senhor." Disse, simplesmente. A profunda infelicidade de sempre marcava a voz do servente de rosto jovem.
"Veneno." Suspirou Estrela, e fez o que tinha que fazer.
"Viu, Olho-Vivo? Conseguiu enxergar o que lhe pedi?" Perguntou o Marechal Estrela, a raiva cega lhe escapava pelos cantos da voz, disfarçada por uma grossa camada de calma cortês.
"Senhor, eu devo insistir.... Não há propósito, não há..." Começou Olho-Vivo, mas foi imediatamente interrompido.
"Não viu?" O Marechal mantinha a expressão impecavelmente alinhada. "Vamos assistir de novo." Disse, apertando um botão do controle. A cena recomeçou. "Vou dizer mais uma vez, Olho-Vivo. Quero que repare no timo, quero que repare NO MALDITO BRILHO NOS OLHOS!" Gritou, espancando Olho com a voz e as costas da mão.
"Senhor, eu... Eu já ví... Não há nada que se possa fazer agora. Me desculpe, Senhor, eu... Pétrequis diz sempre que não se pode mudar o que está feito." Balbuciou Olho-Vivo, suplicante.
"Oh, sim. Tenho certeza de que Pétrequis está certo. A merda está, de fato, feita." Estrela já quase não podia conter a ira. "E onde estava Pétrequis quando devia estar cuidando de VOCÊ?"
"Receio que ele estava com um projeto, Senhor. Aquele sobre..." Hesitou por um instante. "Sobe as torradas."
O Marechal soltou uma bufada de escárnio. " 'Por que as torradas têm gum gosto melhor que pão normal e o que o crunch tem a ver com isso?' ele pergunta... Já eu, EU pergunto o que fazer com uma razão que deixa o sentinela sozinho com a esperança." Largou o corpo remendado na grande poltrona vermelha e coçou o tapa-olho. A imagem da decepção ainda passava na tela. O resto do corpo estava dormitando, como todas as noites, mas o salão de audiência estava ativo, com suas cinco cadeiras, uma ocupada por Olho-Vivo e a poltrona por Estrela. Cérebro e Alma dormiam, sedados por sonhos, mas acordariam em poucas horas.
"Conte-me de novo o que aconteceu, Olho, e conte-me tudo." Disse o Marechal Estrela com uma voz cansada e impaciente. E Olho-Vivo contou.
"Eu estava em meu posto, senhor, estava acordado, ví todos os sinais e tomei nota. Eu ia prevenir a guarda de aço, juro que ia! Mas ela chegou, meu senhor, Moonie Verde, e sabe como ela é. Convenceu-me de que não era nada, disse que não valia à pena alertar a todos, que eram sinais falsos."
"Não é o seu trabalho julgar isso, Olho-Vivo." Repreendeu Estrela "Deixe isso comigo e com Pétrequis."
"Mas Pétrequis não estava lá, Senhor, como o senhor mesmo disse. Mas Moonie Verde estava e fez o que sempre faz."
O Marechal Estrela suspirou. Sabia o que tinha de ser feito, mas estava cansado e abatido e conhecia o procedimento doloroso para resolver tudo.
"Saia da minha frente, Olho, vá lavar o rosto e preparar-se para voltar ao posto." Disse o Marechal, mas quando Olho-Vivo levantou-se e fez menção de sair, completou "Antes, porém, faça com que Pétrequis pare de perseguir torradas e vá domar Moonie Verde... Sei como ela é necessária, mas agora preciso que ela DURMA."
Olho fez uma reverência e dirigiu-se para a saída da sala de audiência.
"E, Olho-Vivo, " Disse o Marechal Estrela "Diga a Veneno que quero falar com ele."
Os olhos de Olho-Vivo arregalaram-se tanto que quase tomaram o rosto todo. Sua boca moveu-se numa tentativa débil de protesto, mas Estrela não lhe deu chance de encontrar as palavras.
"Sabe tão bem quanto eu que não há alternativa." Disse "Todos sabemos que quando vocês cagam, quem tem que limpar é Veneno. Agora faça o que eu mandei."
Olho-Vivo assentiu e deixou o salão. Minutos depois a porta voltou a se abrir, dando passagem ao subordinado todo vestido de negro que atravessou a sala em passos firmes e pôs-se aos pés do Marechal.
"Senhor." Disse, simplesmente. A profunda infelicidade de sempre marcava a voz do servente de rosto jovem.
"Veneno." Suspirou Estrela, e fez o que tinha que fazer.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
O Jogo dos Cavalos
Assim que a cozinheira abandonou o fogão para ir buscar ervas na horta, Tabitha entrou furtivamente na despensa e começou a surrupiar as balas de caramelo, enchendo com elas uma sacolinha de pano que escondeu sob o corpete. "Se vão me obrigar a passar a tarde com um menino bobo," Pensou ela." pelo menos vou levar alguma distração para adoçar meu dia." Saiu da cozinha na ponta dos pés antes mesmo de a senhora Vivian voltar com o alecrim para o carneiro.
La fora a mãe já entrava com Anne no carro e fez sinal para que Tabitha se aproximasse. "Querida, tem certeza de que não quer vir conosco? Não gosto da ideia de você chegando toda suja de poeira na casa dos Emmerich." Disse ela, ainda não totalmente conformada.
"Mãe, você sabe que ficar tanto tempo no carro me deixaria atordoada, por que não evitar isso quando se pode?"O olhar da mãe foi de resignação e Tabitha soube que teria o que desejava. A mulher, todavia, completou.
"Está bem, mas se acha que vou te deixar ir a cavalo sozinha todo o percurso está redondamente enganada." Virou-se para Gabi, que colocava as malas no carro, e disse "Gabrielle, faça-me um favor, sim, querida? Peça ao senhor Lúcio que prepare dois cavalos e que mande o seu assistente acompanhar Tab."
"Sim, senhora Margaret." Respondeu Gabi, dirigindo-se para a casa sem prestar atenção no rosto incrédulo de Tabitha. O primeiro pensamento da menina foi protestar, mas algo fez com que sua cabeça consentisse e sua boca se despedisse da mãe e da irmã com um leve sorriso.
"Não é minha culpa." Pensou ela, enquanto caminhava para o estábulo. "Alguém lá em cima quer ver aonde meu jogo vai dar." Acelerou o passo.
Deu a volta na pequena construção de madeira que chamavam de estábulo e, nos fundos, selando um cavalo, estava o menino jardineiro, com o cabelo escuro penteado e as roupas de trabalho limpas. Ele mal desviou o olhar das fivelas quando Tabitha se aproximou e encostou o tronco na parede, descontraída. Tentou lembrar-se do nome do rapaz, o velho Lúcio tinha lhe dito. "Jonas" pensou ela "Tenho quase certeza".
"E então, o que achou?" Perguntou ao menino. "Não vai dizer nada?"
"O que achei do que?" Retrucou ele, um tanto quando ríspido, sem parar o que estava fazendo.
"De mim, ora!" Tabitha exclamou, impaciente. Jonas terminoude selar os cavalos em silêncio e só então, com um sorriso maroto brotando nos lábios, respondeu.
"Hmm. Ok, eu acho." O jeito com que falou aquilo irritou e divertiu a menina ao mesmo tempo. A pirraça era tão clara que por um momento ela quase lhe deu um soco. Limitou-se, porém, a rir e cruzar os braços.
"Admita, jardineiro, sonhou comigo essa noite?"
"Não tive pesadelos." Afirmou ele, sem tirar o sorriso do rosto. Montou o cavaloe virou-se para ela, esperando que fizesse o mesmo. Sem conseguir decidir se tinha sido elogiada ou insultada, Tabitha saltou sobre a sela e disparou na sua frente, grata por ter vestido calças e não um vestido. Atrás dela, Jonas incitou o cavalo a ir mais rápido e, como que por instinto, começou a corrida.
A adrenalina logo tomou conta da menina e, pelo suor que começava a brotar e escorrer no seu rosto, o mesmo acontecia com ele. Ambos sabiam que quem ganhasse aquela disputa estaria, de certa forma, vencendo a discussão. Tabitha começou a arquejar, estava se cansando mais rápido. Não haviam determinado uma linha de chegada e, assim sendo, a corrida só terminaria quando chegassem na casa dos Emmerich ou quando alguém levasse a pior. Não podia, não ia perder!
Outra daquelas ideias pouco ortodoxas trespassou a mente da menina. Adiantou a montaria, ganhando certa vantagem, e, quando estava exatamente na frente do garoto, despiu a blusa até o limite do corpete, deixando à mostra um pedaço considerável de pele e carne. A reação foi imediata, o jardineiro arregalou os olhos e, num descuido, perdeu o controle do cavalo, caindo. Seu corpo rolou no chão e ficou imóvel. Subitamente preocupada, Tabitha fez com que o cavalo freasse, saltou e correu até onde Jonas estava deitado.
"Pronto, matei o jardineiro." Pensou, ajoelhando-se e inclinando a cabeça sobre seu peito, tentando captar uma respiração.
"Aquilo foi sujo." Sussurrou a fraca voz de Jonas.
"O filho da puta está vivo" Pensou ela, aliviada. Mas, ainda com certa apreensão, perguntou "Quebrou alguma coisa? Está sentindo as pernas?"
O garoto soltou um ruído que era meio riso e meio gemido. "Sinto as pernas, " Disse. "mas respiro mal... Vou precisar de um boca-a-boca.". Completou, aquele sorriso pirracento de novo no rosto.
" Você me assustou." O tom de Tabitha já era brincalhão. "Mas vejo que já recuperou toda a impertinência."
"Eu te assustei? Você e essa merda de ca..." Não pode terminar a frase porque a menina calou seus lábios com a boca.
"Mas que porra..!" Tentou balbuciar.
"Céus, como você xinga!" Retrucou Tabitha e beijou-lhe novamente. Daquela vez não houve resistência e sem demora pode sentir os braços de Jonas rodeando a cintura.
Depois de um longo tempo, não soube dizer quanto, Tabitha viu-se obrigada a voltar à realidade e lembrar ao garoto de que precisavam seguir adiante se quisessem chegar na casa Emmerich a tempo. Levantaram-se sacodiram a poeira das roupas e montaram os cavalos, como se nada tivesse acontecido. Seguiram em médio passo, em silêncio ou conversando sobre coisas triviais. Ela não se sentia constrangida, pelo contrário, estava leve como se alguém lhe tivesse desatado correntes dos pés.
"Que venham os Emmerich." Pensou, somo se pudesse desafiar o tempo." Tenho caramelo e lembranças para o resto da tarde."
La fora a mãe já entrava com Anne no carro e fez sinal para que Tabitha se aproximasse. "Querida, tem certeza de que não quer vir conosco? Não gosto da ideia de você chegando toda suja de poeira na casa dos Emmerich." Disse ela, ainda não totalmente conformada.
"Mãe, você sabe que ficar tanto tempo no carro me deixaria atordoada, por que não evitar isso quando se pode?"O olhar da mãe foi de resignação e Tabitha soube que teria o que desejava. A mulher, todavia, completou.
"Está bem, mas se acha que vou te deixar ir a cavalo sozinha todo o percurso está redondamente enganada." Virou-se para Gabi, que colocava as malas no carro, e disse "Gabrielle, faça-me um favor, sim, querida? Peça ao senhor Lúcio que prepare dois cavalos e que mande o seu assistente acompanhar Tab."
"Sim, senhora Margaret." Respondeu Gabi, dirigindo-se para a casa sem prestar atenção no rosto incrédulo de Tabitha. O primeiro pensamento da menina foi protestar, mas algo fez com que sua cabeça consentisse e sua boca se despedisse da mãe e da irmã com um leve sorriso.
"Não é minha culpa." Pensou ela, enquanto caminhava para o estábulo. "Alguém lá em cima quer ver aonde meu jogo vai dar." Acelerou o passo.
Deu a volta na pequena construção de madeira que chamavam de estábulo e, nos fundos, selando um cavalo, estava o menino jardineiro, com o cabelo escuro penteado e as roupas de trabalho limpas. Ele mal desviou o olhar das fivelas quando Tabitha se aproximou e encostou o tronco na parede, descontraída. Tentou lembrar-se do nome do rapaz, o velho Lúcio tinha lhe dito. "Jonas" pensou ela "Tenho quase certeza".
"E então, o que achou?" Perguntou ao menino. "Não vai dizer nada?"
"O que achei do que?" Retrucou ele, um tanto quando ríspido, sem parar o que estava fazendo.
"De mim, ora!" Tabitha exclamou, impaciente. Jonas terminoude selar os cavalos em silêncio e só então, com um sorriso maroto brotando nos lábios, respondeu.
"Hmm. Ok, eu acho." O jeito com que falou aquilo irritou e divertiu a menina ao mesmo tempo. A pirraça era tão clara que por um momento ela quase lhe deu um soco. Limitou-se, porém, a rir e cruzar os braços.
"Admita, jardineiro, sonhou comigo essa noite?"
"Não tive pesadelos." Afirmou ele, sem tirar o sorriso do rosto. Montou o cavaloe virou-se para ela, esperando que fizesse o mesmo. Sem conseguir decidir se tinha sido elogiada ou insultada, Tabitha saltou sobre a sela e disparou na sua frente, grata por ter vestido calças e não um vestido. Atrás dela, Jonas incitou o cavalo a ir mais rápido e, como que por instinto, começou a corrida.
A adrenalina logo tomou conta da menina e, pelo suor que começava a brotar e escorrer no seu rosto, o mesmo acontecia com ele. Ambos sabiam que quem ganhasse aquela disputa estaria, de certa forma, vencendo a discussão. Tabitha começou a arquejar, estava se cansando mais rápido. Não haviam determinado uma linha de chegada e, assim sendo, a corrida só terminaria quando chegassem na casa dos Emmerich ou quando alguém levasse a pior. Não podia, não ia perder!
Outra daquelas ideias pouco ortodoxas trespassou a mente da menina. Adiantou a montaria, ganhando certa vantagem, e, quando estava exatamente na frente do garoto, despiu a blusa até o limite do corpete, deixando à mostra um pedaço considerável de pele e carne. A reação foi imediata, o jardineiro arregalou os olhos e, num descuido, perdeu o controle do cavalo, caindo. Seu corpo rolou no chão e ficou imóvel. Subitamente preocupada, Tabitha fez com que o cavalo freasse, saltou e correu até onde Jonas estava deitado.
"Pronto, matei o jardineiro." Pensou, ajoelhando-se e inclinando a cabeça sobre seu peito, tentando captar uma respiração.
"Aquilo foi sujo." Sussurrou a fraca voz de Jonas.
"O filho da puta está vivo" Pensou ela, aliviada. Mas, ainda com certa apreensão, perguntou "Quebrou alguma coisa? Está sentindo as pernas?"
O garoto soltou um ruído que era meio riso e meio gemido. "Sinto as pernas, " Disse. "mas respiro mal... Vou precisar de um boca-a-boca.". Completou, aquele sorriso pirracento de novo no rosto.
" Você me assustou." O tom de Tabitha já era brincalhão. "Mas vejo que já recuperou toda a impertinência."
"Eu te assustei? Você e essa merda de ca..." Não pode terminar a frase porque a menina calou seus lábios com a boca.
"Mas que porra..!" Tentou balbuciar.
"Céus, como você xinga!" Retrucou Tabitha e beijou-lhe novamente. Daquela vez não houve resistência e sem demora pode sentir os braços de Jonas rodeando a cintura.
Depois de um longo tempo, não soube dizer quanto, Tabitha viu-se obrigada a voltar à realidade e lembrar ao garoto de que precisavam seguir adiante se quisessem chegar na casa Emmerich a tempo. Levantaram-se sacodiram a poeira das roupas e montaram os cavalos, como se nada tivesse acontecido. Seguiram em médio passo, em silêncio ou conversando sobre coisas triviais. Ela não se sentia constrangida, pelo contrário, estava leve como se alguém lhe tivesse desatado correntes dos pés.
"Que venham os Emmerich." Pensou, somo se pudesse desafiar o tempo." Tenho caramelo e lembranças para o resto da tarde."
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Você não entendeu.
"Um, dois, três, inspira." Contava Anne mentalmente. "Um, dois, três, expira." Apertou mais o casaco em volta do cortpo, tentando não tirar os olhs dos sapatos. A porta estava próxima, mais 4 metros e estaria segura. O tornozelo recém curado ainda latejava e sentia as grossas camadas de gelo que lhe cobriam a pouco mais que uma hora. Apenas dois passos e estaria dentro, dois passos! Um passo! Abre a porta, joga o corpo pra dentro, ah!
Ir do carro até a porta de casa era um suplício, tornozelo machucado ou não. Martin estacionava no pátio da frente e queles dez metros atapetados de grama eram sua ruina. Em todo e quaquer ambiente aberto a menina podia sentir o peso do céu sobre sí e toda a imensidão do ar à sua volta. Dava-lhe pânico sentir-se tão vulnerável, tão... Tão... Pequena.
"Estou em casa"Disse ela, esperando que fosse alto o suficiente. A mãe logo veio lhe ajudar a subir as escadas e perguntar sobre a consulta.
"Como foi? Doeu-lhe quando tiraram o gesso? O doutor disse em quanto tempo poderá andar normalmente?"Eram sempre perguntas demais, que Anne respondia pacientemente.
"O tornozelo ainda está dolorido, mas o médico acredita que em três dias já estarei subindo escadas e todo o resto." Explicou. " Agora vou me trocar. O vô e a avó já estão à espera, certo?" Haviam chegado à porta do quarto.
"Sim, querida." Replicou a mãe. "Vai-te logo que hoje conseguimos até manter Tab dentro de casa. O chá está servido!"
Anne entrou no cômodo e trancou a porta, rodando a chave duas vezes. Jogou-se de bruços na cama, exausta. Sair de casa extinguia todas as suas forças e ela o evitava ao máximo. Que belo par de filhas os pais tinham, pensou ela, quase amarga. A mais velha claustrofóbica e a mais nova que mal podia por os pés pela porta sem encolher-se como um rato. Tirou as pesadas botas, empurrando com os pés e ficou mirndo a segurança do teto por um tempo.
Finalmente tomou coragem para levantar. Foi até o seu pequeno lavablo e molhou o rosto com água fria. Olhou o próprio reflexo no espelhinho e soltou um muxoxo. Era um rostinho maltratado e infeliz que Anne quase não reconheceu como seu. Enxugou-se e pôs a maquiagem devida a uma donzela de 15 anos: a camada de pó de arroz que cobria as olheiras, pó de rouge claro para as maçãs e um rosa pálido nos lábios. Quando olhou-se novament o resultado agradou-a um pouco mais. "Talvez Alex olhasse para mim agora, talvez... Talvez." A menina afastou aquela esperança indign com um abano de cabeça.
Desamarrou o corpete com dedos calmos e desabotoou o vestido, jogando tudo no cesto de roupa suja. escolheu um vestido marrom, combinando com os cabelos que escorriam até o busto. Calçou uma bota ais leve que a de antes, mas ainda assim bem amarrada e justa no tornozelo. Jogou um casaco sobre os ombrs e uma borrifada de perfume sobre si. Sentindo-se melhor, destrancou porta e pôs-se a caminhar desajeitada pelo corredor, rumo à escada. A mãe tinha mandado que Gabi a esperasse ali no topo, para ajudar na descida. Anne deu-lhe uma mão e apoiou-se com a outra no corrimão e assim foram lentamente, degrau por degrau.
Ao chegar o térreo ela agradeceu a empregada e virou-se para a esquerda, dirigindo-se à sala de chá. Antes de chegar à porta já podia escutar as vozes da mãe e dos avós conversando e a risada animada de Tabitha. Como queria ser ao menos um pouco relazada como a irmã. "Tenho certeza de que conseguiria falar com Alex." Pensou, enquando arrastava os pés para dentro do recinto. "Quem sabe até lhe dar um abraço, um bom abraço.
A voz da mãe saudou-lhe, alta e e aguda. "Annie! Meu bem! Junte-se a nós, os biscoitos estão um pecado." Ofereceu a cestinha à filha uando esta se sentou, depois de beijar a mão da avó e receber a bênção do avô. Anne ceitou um biscoito e serviu-se do chá quente que repousava numa cheleira de porcelana no centro da mesinha baixa. Os avós estavam no sofá à sua frente, Tabitha, esparramada na cadeira à sua direita e a mãe tomava a poltrona à direita, enquanto Anne ocupava um dos assentos da marquesa acolchoada de carvalho.
A conversa estava agradável e o chá, doce. Tabitha remexia-se de quando em quando mas estava incrivelmente ocntrolada, considerando que as janelas estavam fechadas. Reparou que a irmã olhava para o jardim com certa frequência, mas pensou que era muito natural, vez que estavam dentro de casa a mais de uma hora. Anne sabia que o único cômodo em que Tab se sentia realmente confortavel era o seu quarto, cujas paredes eram, na verdade, grandes janelas de vidro que iam do teto ao rodapé e davam para a vista sensacional do bosque que rodeava o terreno da casa.
Discutiam acaloradamente sobre a obra de Edgar A. Poe quando Gabi chegou à porta e interrompeu delicadamente a conversa. "Senhora Margaret, chegou um recado para a senhora." Disse a moça, tirando um pequeno papel do avental. "Quem deixou aqui foi o senhor Desmond, aquele motorista dos Emmerich." Acrescentou, entregando a nota à patroa. O coração de Anne parou. Emmerich. Era da casa de Alex. Se fosse o que ela estava pensando... Inclinou-se para a direita, na esperança de fisgar alguma coisa enquanto a mãe passava os olhos pelo papel.
"Vejam que adorável!" Exclamou Margaret quando terminou de ler. "Os Emmerich convidam-nos para passar o dia em sua casa amanhã. Seria perfeito para que você pudesse conhecer seu filho mais velho, Pedro, Tabbie, querida. Quem sabe não gosta dele?" Anne sabia que a mãe sempre quis empurrar o menino para Tabitha. Ela e a senhora Emmerich sonhavam com esse casamento desde que as meninas eram pequenas. Anne tinha absoluta certeza de que Tab nunca se dobraria a esse desejo fútil da mãe, mas não estava interessada nisso, queria saber de si própria e onde ficava nessa história.
"E quanto a mim, mãe? Também posso ir?" Inquiriu.
"Óbvio que sim, benzinho. Creio que a companhia de Pedro seja um tanto quanto desinteressante pra você, vez que ele é bem mais velho, mas Alex certamente poderia lhe mostrar seu quarto. Tenho certeza de que vocês se divertiriam brincando ou pintando. Alex também não toma aulas de desenho com seu professor?"
"Sim." Murmurou a menina, tentando conter a felicidade. Mal ouvia os resmungos de Tabitha. Aquilo era bom demais pra se verdade. Um dia inteiro, só ela e Alex? Pensou que ia explodir, mas continuou sentada, assistindo a briga selvagem da mãe e da irmã.
Ir do carro até a porta de casa era um suplício, tornozelo machucado ou não. Martin estacionava no pátio da frente e queles dez metros atapetados de grama eram sua ruina. Em todo e quaquer ambiente aberto a menina podia sentir o peso do céu sobre sí e toda a imensidão do ar à sua volta. Dava-lhe pânico sentir-se tão vulnerável, tão... Tão... Pequena.
"Estou em casa"Disse ela, esperando que fosse alto o suficiente. A mãe logo veio lhe ajudar a subir as escadas e perguntar sobre a consulta.
"Como foi? Doeu-lhe quando tiraram o gesso? O doutor disse em quanto tempo poderá andar normalmente?"Eram sempre perguntas demais, que Anne respondia pacientemente.
"O tornozelo ainda está dolorido, mas o médico acredita que em três dias já estarei subindo escadas e todo o resto." Explicou. " Agora vou me trocar. O vô e a avó já estão à espera, certo?" Haviam chegado à porta do quarto.
"Sim, querida." Replicou a mãe. "Vai-te logo que hoje conseguimos até manter Tab dentro de casa. O chá está servido!"
Anne entrou no cômodo e trancou a porta, rodando a chave duas vezes. Jogou-se de bruços na cama, exausta. Sair de casa extinguia todas as suas forças e ela o evitava ao máximo. Que belo par de filhas os pais tinham, pensou ela, quase amarga. A mais velha claustrofóbica e a mais nova que mal podia por os pés pela porta sem encolher-se como um rato. Tirou as pesadas botas, empurrando com os pés e ficou mirndo a segurança do teto por um tempo.
Finalmente tomou coragem para levantar. Foi até o seu pequeno lavablo e molhou o rosto com água fria. Olhou o próprio reflexo no espelhinho e soltou um muxoxo. Era um rostinho maltratado e infeliz que Anne quase não reconheceu como seu. Enxugou-se e pôs a maquiagem devida a uma donzela de 15 anos: a camada de pó de arroz que cobria as olheiras, pó de rouge claro para as maçãs e um rosa pálido nos lábios. Quando olhou-se novament o resultado agradou-a um pouco mais. "Talvez Alex olhasse para mim agora, talvez... Talvez." A menina afastou aquela esperança indign com um abano de cabeça.
Desamarrou o corpete com dedos calmos e desabotoou o vestido, jogando tudo no cesto de roupa suja. escolheu um vestido marrom, combinando com os cabelos que escorriam até o busto. Calçou uma bota ais leve que a de antes, mas ainda assim bem amarrada e justa no tornozelo. Jogou um casaco sobre os ombrs e uma borrifada de perfume sobre si. Sentindo-se melhor, destrancou porta e pôs-se a caminhar desajeitada pelo corredor, rumo à escada. A mãe tinha mandado que Gabi a esperasse ali no topo, para ajudar na descida. Anne deu-lhe uma mão e apoiou-se com a outra no corrimão e assim foram lentamente, degrau por degrau.
Ao chegar o térreo ela agradeceu a empregada e virou-se para a esquerda, dirigindo-se à sala de chá. Antes de chegar à porta já podia escutar as vozes da mãe e dos avós conversando e a risada animada de Tabitha. Como queria ser ao menos um pouco relazada como a irmã. "Tenho certeza de que conseguiria falar com Alex." Pensou, enquando arrastava os pés para dentro do recinto. "Quem sabe até lhe dar um abraço, um bom abraço.
A voz da mãe saudou-lhe, alta e e aguda. "Annie! Meu bem! Junte-se a nós, os biscoitos estão um pecado." Ofereceu a cestinha à filha uando esta se sentou, depois de beijar a mão da avó e receber a bênção do avô. Anne ceitou um biscoito e serviu-se do chá quente que repousava numa cheleira de porcelana no centro da mesinha baixa. Os avós estavam no sofá à sua frente, Tabitha, esparramada na cadeira à sua direita e a mãe tomava a poltrona à direita, enquanto Anne ocupava um dos assentos da marquesa acolchoada de carvalho.
A conversa estava agradável e o chá, doce. Tabitha remexia-se de quando em quando mas estava incrivelmente ocntrolada, considerando que as janelas estavam fechadas. Reparou que a irmã olhava para o jardim com certa frequência, mas pensou que era muito natural, vez que estavam dentro de casa a mais de uma hora. Anne sabia que o único cômodo em que Tab se sentia realmente confortavel era o seu quarto, cujas paredes eram, na verdade, grandes janelas de vidro que iam do teto ao rodapé e davam para a vista sensacional do bosque que rodeava o terreno da casa.
Discutiam acaloradamente sobre a obra de Edgar A. Poe quando Gabi chegou à porta e interrompeu delicadamente a conversa. "Senhora Margaret, chegou um recado para a senhora." Disse a moça, tirando um pequeno papel do avental. "Quem deixou aqui foi o senhor Desmond, aquele motorista dos Emmerich." Acrescentou, entregando a nota à patroa. O coração de Anne parou. Emmerich. Era da casa de Alex. Se fosse o que ela estava pensando... Inclinou-se para a direita, na esperança de fisgar alguma coisa enquanto a mãe passava os olhos pelo papel.
"Vejam que adorável!" Exclamou Margaret quando terminou de ler. "Os Emmerich convidam-nos para passar o dia em sua casa amanhã. Seria perfeito para que você pudesse conhecer seu filho mais velho, Pedro, Tabbie, querida. Quem sabe não gosta dele?" Anne sabia que a mãe sempre quis empurrar o menino para Tabitha. Ela e a senhora Emmerich sonhavam com esse casamento desde que as meninas eram pequenas. Anne tinha absoluta certeza de que Tab nunca se dobraria a esse desejo fútil da mãe, mas não estava interessada nisso, queria saber de si própria e onde ficava nessa história.
"E quanto a mim, mãe? Também posso ir?" Inquiriu.
"Óbvio que sim, benzinho. Creio que a companhia de Pedro seja um tanto quanto desinteressante pra você, vez que ele é bem mais velho, mas Alex certamente poderia lhe mostrar seu quarto. Tenho certeza de que vocês se divertiriam brincando ou pintando. Alex também não toma aulas de desenho com seu professor?"
"Sim." Murmurou a menina, tentando conter a felicidade. Mal ouvia os resmungos de Tabitha. Aquilo era bom demais pra se verdade. Um dia inteiro, só ela e Alex? Pensou que ia explodir, mas continuou sentada, assistindo a briga selvagem da mãe e da irmã.
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