Bom, eu não queria dizer... Meio constrangedor, entende? Mas você sabe. No fundo do cérebro, na lembrança de um pesadelo esquisito da infância, você sabe muito bem. Ela existe lá dentro; talvez entre duas costelas ou, quem sabe, na ponta do dedo do meio.
É uma coisinha minúscula, gelada, que arranha a parede dos ossos com pequenas unhas de mármore branco. É um barulhinho, uma correntinha de ouro roçando no fundo da piscina. Simplesmente desesperador. Como aquela vozinha aguda de passarinho que só se escuta pelo canto das orelhas, a uns 87 graus, mais ou menos. Você lembra desse sonho. É certo, como o dia depois da noite, que o pio de canarinho engrossa e se torna uma voz grave e macia que vai te devorar e quebrar sua alma em duas.
A coisinha também vai partir seu espírito. Ela é como o sonho, mas continua lá, PRINCIPALMENTE quando você acorda. Ela vai descascando seus ossos e furando seus pulmões com as unhas postiças de mármore e vai derreter toda a gentileza com sua saliva ácida que cai, gota a gota, no pequeno jardim de jasmin que você trancou no armário da memória.
Ah, coisinha odiosa! Você também tem uma? Ela é do tamanho de uma aranhazinha; menos que uma viúva negra, mas tão letal quanto. Talvez mais. Tece sua teia pelas minhas vísceras, põe uma lente de aumento nas vizarrices dos meus pesadelos mais obscuros e torna meus melhores desejos realidade, só em sonhos, para que eu queira morrer toda vez que acordo.(Não nade de costas. Só não nade de costas!)
Ela mesma se odeia, a coisinha. Me grita por entorpecentes, mas não há nada que eu possa lhe dar que seja mais venenoso que seu póroprio néctar vermelho, sua calda de cereja. Oh, Cherry, Cherry... É como estou pensando em chamá-la, a minha pequena, minha criaturinha feita de sete pecados capitais e pó. Porque é ao pó que todos voltamos todas as noites.
Sonhe com flores, sonhe com borboletas. Boa noite, gatinho.
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