Assim que a cozinheira abandonou o fogão para ir buscar ervas na horta, Tabitha entrou furtivamente na despensa e começou a surrupiar as balas de caramelo, enchendo com elas uma sacolinha de pano que escondeu sob o corpete. "Se vão me obrigar a passar a tarde com um menino bobo," Pensou ela." pelo menos vou levar alguma distração para adoçar meu dia." Saiu da cozinha na ponta dos pés antes mesmo de a senhora Vivian voltar com o alecrim para o carneiro.
La fora a mãe já entrava com Anne no carro e fez sinal para que Tabitha se aproximasse. "Querida, tem certeza de que não quer vir conosco? Não gosto da ideia de você chegando toda suja de poeira na casa dos Emmerich." Disse ela, ainda não totalmente conformada.
"Mãe, você sabe que ficar tanto tempo no carro me deixaria atordoada, por que não evitar isso quando se pode?"O olhar da mãe foi de resignação e Tabitha soube que teria o que desejava. A mulher, todavia, completou.
"Está bem, mas se acha que vou te deixar ir a cavalo sozinha todo o percurso está redondamente enganada." Virou-se para Gabi, que colocava as malas no carro, e disse "Gabrielle, faça-me um favor, sim, querida? Peça ao senhor Lúcio que prepare dois cavalos e que mande o seu assistente acompanhar Tab."
"Sim, senhora Margaret." Respondeu Gabi, dirigindo-se para a casa sem prestar atenção no rosto incrédulo de Tabitha. O primeiro pensamento da menina foi protestar, mas algo fez com que sua cabeça consentisse e sua boca se despedisse da mãe e da irmã com um leve sorriso.
"Não é minha culpa." Pensou ela, enquanto caminhava para o estábulo. "Alguém lá em cima quer ver aonde meu jogo vai dar." Acelerou o passo.
Deu a volta na pequena construção de madeira que chamavam de estábulo e, nos fundos, selando um cavalo, estava o menino jardineiro, com o cabelo escuro penteado e as roupas de trabalho limpas. Ele mal desviou o olhar das fivelas quando Tabitha se aproximou e encostou o tronco na parede, descontraída. Tentou lembrar-se do nome do rapaz, o velho Lúcio tinha lhe dito. "Jonas" pensou ela "Tenho quase certeza".
"E então, o que achou?" Perguntou ao menino. "Não vai dizer nada?"
"O que achei do que?" Retrucou ele, um tanto quando ríspido, sem parar o que estava fazendo.
"De mim, ora!" Tabitha exclamou, impaciente. Jonas terminoude selar os cavalos em silêncio e só então, com um sorriso maroto brotando nos lábios, respondeu.
"Hmm. Ok, eu acho." O jeito com que falou aquilo irritou e divertiu a menina ao mesmo tempo. A pirraça era tão clara que por um momento ela quase lhe deu um soco. Limitou-se, porém, a rir e cruzar os braços.
"Admita, jardineiro, sonhou comigo essa noite?"
"Não tive pesadelos." Afirmou ele, sem tirar o sorriso do rosto. Montou o cavaloe virou-se para ela, esperando que fizesse o mesmo. Sem conseguir decidir se tinha sido elogiada ou insultada, Tabitha saltou sobre a sela e disparou na sua frente, grata por ter vestido calças e não um vestido. Atrás dela, Jonas incitou o cavalo a ir mais rápido e, como que por instinto, começou a corrida.
A adrenalina logo tomou conta da menina e, pelo suor que começava a brotar e escorrer no seu rosto, o mesmo acontecia com ele. Ambos sabiam que quem ganhasse aquela disputa estaria, de certa forma, vencendo a discussão. Tabitha começou a arquejar, estava se cansando mais rápido. Não haviam determinado uma linha de chegada e, assim sendo, a corrida só terminaria quando chegassem na casa dos Emmerich ou quando alguém levasse a pior. Não podia, não ia perder!
Outra daquelas ideias pouco ortodoxas trespassou a mente da menina. Adiantou a montaria, ganhando certa vantagem, e, quando estava exatamente na frente do garoto, despiu a blusa até o limite do corpete, deixando à mostra um pedaço considerável de pele e carne. A reação foi imediata, o jardineiro arregalou os olhos e, num descuido, perdeu o controle do cavalo, caindo. Seu corpo rolou no chão e ficou imóvel. Subitamente preocupada, Tabitha fez com que o cavalo freasse, saltou e correu até onde Jonas estava deitado.
"Pronto, matei o jardineiro." Pensou, ajoelhando-se e inclinando a cabeça sobre seu peito, tentando captar uma respiração.
"Aquilo foi sujo." Sussurrou a fraca voz de Jonas.
"O filho da puta está vivo" Pensou ela, aliviada. Mas, ainda com certa apreensão, perguntou "Quebrou alguma coisa? Está sentindo as pernas?"
O garoto soltou um ruído que era meio riso e meio gemido. "Sinto as pernas, " Disse. "mas respiro mal... Vou precisar de um boca-a-boca.". Completou, aquele sorriso pirracento de novo no rosto.
" Você me assustou." O tom de Tabitha já era brincalhão. "Mas vejo que já recuperou toda a impertinência."
"Eu te assustei? Você e essa merda de ca..." Não pode terminar a frase porque a menina calou seus lábios com a boca.
"Mas que porra..!" Tentou balbuciar.
"Céus, como você xinga!" Retrucou Tabitha e beijou-lhe novamente. Daquela vez não houve resistência e sem demora pode sentir os braços de Jonas rodeando a cintura.
Depois de um longo tempo, não soube dizer quanto, Tabitha viu-se obrigada a voltar à realidade e lembrar ao garoto de que precisavam seguir adiante se quisessem chegar na casa Emmerich a tempo. Levantaram-se sacodiram a poeira das roupas e montaram os cavalos, como se nada tivesse acontecido. Seguiram em médio passo, em silêncio ou conversando sobre coisas triviais. Ela não se sentia constrangida, pelo contrário, estava leve como se alguém lhe tivesse desatado correntes dos pés.
"Que venham os Emmerich." Pensou, somo se pudesse desafiar o tempo." Tenho caramelo e lembranças para o resto da tarde."
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