Tenho conversado com mosquitos madrugada adentro. Como pode uma pessoa estar cansada demais pra dormir? Meus ossos nem tão velhos reclamam em cada posição e os estalos nem mesmo me permitem lembrar que eu tenho que respirar uma vez... Duas... Três... Quatro... E oi, senhor mosquito! Como está a senhora sua esposa? E as crianças? Imagino o quanto não devem ter crescido, regadas por esse meu fértil sangue.
E perdida entre essas conversas de parede eu já perdi a conta de novo e, assim, mil e uma respirações não são oxigênio suficiente para dopar sequer um terço das caramiolas que carrego. Me preocupa o vazio, a ansiedade, a falta de objetivos, a pouca importância que parecem ter as metas e números que eu deveria atingir. Como lutar pela mera promessa de uma clareza que, juram (!), um dia vai chegar?
Acho que é o momento em que você e arrepende de todas as sonecas que se recusou a tirar quando, depois do almoço, sua mãe lhe pedia um minuto de paz na casa. Sair correndo com a barriga ainda cheia de comida me parecia um ótimo negócio e, apesar de todos os avisos, eu nunca vomitei. Nem mesmo quando plantava bananeira.
Agora a cada manhã meu estômago faz menção de desfazer-se do que lhe empurrei goela abaixo. Agora a casa está em paz e o barulho do ventilador misturado aos ruídos dos gatos na rua são a perfeita canção de ninar. Ainda assim, a cama parece rejeitar as células do meu corpo e as lembranças do dia fazem questão de esfregar na cara minhas pequenas incompetências, para explicitar a impotência de consertar tudo naquele momento. Copo d'água. Nada parece melhorar a aridez impermeável de uma garganta já saturada por gritos contidos.
Corpo virado para o teto. Lembre de respirar. Vamos, fundo! Um... Dois...Cinco... Espera um pouco... Quatro... Cin=%&* Argh! Não aguento mais escrever sobre como é difícil dormir. Me parece que todas as músicas que canto ecoam "insônia" aos ouvidos já saturados por The Jesus and Mary Chain, The Horrors, por Beethoven e Chopin, all day long. Estou cansada demais para dormir, sim! Atolada na falta de um caminho outrora pavimentado por tijolos amarelos.
Querido, amado senhor mosquito: pra que mendigar migalhas? Leve logo tudo, minhas hemácias são suas! Alimente seus primos, tios, avós... Doe para os mosquitinhos famintos da África ou guarde para sí em bancos de sangue secretos na Suíça. Eu não me importo, não se acanhe, leve! Depois vá embora para que eu posta encostar meu corpo suado no frio da parede, desejando que fosse pele de um corpo outrora nomeado, mas já sem rosto ou perspectivas. "Faríamos amor na ponta de uma faca!", eu costumava sussurrar.
A contagem já se perdeu entre as respirações e, de repente, me parece improvável que exista tanto oxigênio na atmosfera. O estoque há de ser imenso porque é um longo, mas um longo, longo, longo, longo caminho até a calma, até o sonho. Para chegar no esquecimento. Esquecer que o futuro é um precipício. Fundo. Ou que talvez não tenha fundo. Pior! Talvez não tenha nem mesmo ar-condicionado.
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