segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ouro e Mercúrio

      Desperta-me. Convence-me de que eu sou eu e espelho é espelho. Traça o limiar e descola esse horizonte, agora tão colado no reflexo de quem eu poderia ser. Beija-me em ângulos duvidosos, provando e mostrando que só os corpos tolos não ocupam o mesmo espaço. Tolos corpos tristes fadados à solidão de pertencerem só a sí mesmos e, portanto, a ninguém. 
      Derrete-me. Separa meu ouro do mercúrio que usei para tentar me encontrar e que serviu apenas para intoxicar meu sangue. E, se algum ouro meu sobrou, cobre-me com ele para que eu brilhe como o sol da meia noite nas noites sem fim e sem descanso onde habita minha sonâmbula alma. É um deserto de líquidas dunas, é a maior prisão do mundo, é o abismo que cabe no diâmetro de um crânio.
      Encanta-me. Quebra o desencanto e o desconsolo de achar que os anos são só parênquimas sem função, entre dois tecidos inalcansáveis que a tudo dariam sentido. Amarra-me. Segura-me entre seus braços para que eu enlace teu pensamento com minhas pernas e afaste meus pés da linha tênue pela qual tenho andado. É uma corda bamba que leva a lugar nenhum e passa tão perto da loucura!
      Salva-me. Desperta-me. Derrete-me. Encanta-me. Beija-me de olhos fechados.

      Me abraça. Tudo pode dar certo.

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