sexta-feira, 8 de junho de 2012

Com Seus Malabares

     Por favor, não me olhe assim. Você sabe, hoje em dia não se pode mais confiar em nada e nem ninguém e a qualquer momento algo pode vir da escuridão pelo ponto cego do retrovisor. No fundo eu pude ver em seus olhos que essa não era a intenção. Era só mais um dia duro e, afinal, estamos todos na luta, não é mesmo? Mas tente entender que não estava em minhas mãos decidir ficar, muito menos confiar.
     Fui impulsionada para a frente, num arranque estridente, passando pra trás o sinal vermelho e a sua silhueta cansada e desprezada. Pedi desculpas silenciosas naquele encontro fugaz de olhos, ambos assustados. Esperei que os sinais chegassem até você, na esperança de não receber esse olhar a me encarar com mágoa.
     Como mostrar em poucos segundos, por detrás de uma parede de vidro, que eu não pensei aquilo de você? Juro que não! Mas eu simplesmente não podia arriscar tanta coisa numa mera certeza. Mera, sim, parca! De que valem as certezas nos dias de hoje? Elas escapam e escorrem por entre os dedos como água sujismunda.
     A única coisa a fazer era esperar que você entendesse acreditasse que não era a minha intenção pisar ou sentir nojo. Nunca. Eu queria apenas me proteger. Por isso, por favor, só não me olhe assim.


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