quarta-feira, 21 de março de 2012

Cadáveres de Pipa

    Passo em alta velocidade pela avenida ao lado do mar. É um fim de tarde de domingo e os fios elétricos enrolados por cadáveres de pipas completam o cenário melancólico que antecede outra segunda-feira. As ondas ainda se mexem da mesma maneira e a luminosidade do dia também é mais ou menos o que sempre foi por todos esses anos. Mas nada está igual.
    Me pergunto quando foi que isso tudo ficou tão sério, quando as coisas deixaram de ser só uma brincadeira e passaram a ser reais. Quando foi que os anos aceleraram a passar e me deixaram no banco de trás de um carro chique, andando a toda velocidade  em direção ao futuro. Ao MEU futuro, a um amanhã de que nem pistas tenho.
    Chegou o tempo das nossas vidas e percebi que ele é escasso demais para todas as promessas de glamour e juventude que um dia eu vi num programa de TV. Tenho medo de que esse seja o ápice e eu nada tenha percebido; tenho medo de que esse seja o ápice e que, daqui pra frente, seja só ladeira abaixo.
    Não quero arrumar um emprego pra me casar, ter filhos e viver o resto da vida numa estação decadente, esperando por um trem que jamais vai me levar para a Terra do Nunca. "Com a boca escancarada e cheia de dentes, esperando a morte chegar". Não quero olhar para a minha realidade e ver que o vento parou de soprar, ver que minha alegria, vontade e juventude secaram e enrolaram-se encarquilhadas num canto, como os cadáveres de pipa em fios elétricos num fim de tarde de domingo.

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