Ela pegou o copo, cheio com alguma bebida aleatória, e andou pra longe. Parou em um lugar escuro, totalmente consciente dos passos que a seguiam. Encostou-se na cerca e levou aos lábios o liquido, cheio de álcool e qualquer outra coisa barata, fingindo não querer olhar para a pessoa ao seu lado.
- Por que você veio pra cá? – ele perguntou.
Ela bebeu outro grande gole da coisa, já sentindo a cabeça girar.
- Por que você está me evitando? – inquiriu novamente.
- Estou fugindo. – respondeu ela, seca e a contragosto. O estômago gelava e isso nada tinha a ver com bebida alguma. Ele se aproximou um pouco mais.
- Mas eu gosto de você. – começou o menino, sem perceber que ela apertava o copo com a mão. – Quer dizer, você é realmente legal.
Ela mirava os próprios sapatos, imaginando o quão brilhantes deviam ser aqueles olhos que agora a questionavam.
- Sabe, é ai que está o problema. Você é o meu tipo. Mais que isso, talvez.
- E dai?
Céus. Existiria alguém assim tão inocente? Seria ele sonso ou apenas escondia a verdade de si mesmo? Ela respirou fundo.
- Tente entender... – começou. – Eu estou com medo de acabar gostando de você de outra forma. – Fez uma pausa. – Tenho medo de já estar gostando.
Olhou para ele pela primeira vez. Aquele olho claro deveria lhe dizer alguma coisa, mas ela não conseguiu traduzir no momento. Estava confusa demais. Talvez bêbada demais. De todo jeito, sua garganta apertou e ela foi forçada a desviar o rosto novamente. Ele avançou um pouco mais e a abraçou. Começou então a cantar uma musica, aquela que tantas vezes haviam cantado juntos.
Ela se afastou, a boca com gosto de metal.
- O que há de errado com você? – exaltou-se a menina. – Não percebe o que acabei de dizer? – Os olhos claros miravam-na, confusos. – Não deixei claro o quanto doeria ter você por perto sem te ter pra mim? Me mata ouvir de você essa musica! Me mata sentir sua pele na minha!
Calou-se, percebendo aos poucos o que havia dito. Sentiu-se novamente tonta e apertou os olhos, sem mais poder encarar o rosto na sua frente.
- Eu... – começou ele. Mas não encontrou mais palavras.
Sem saber o significado desse silêncio ela sentiu que a visão ia ficando turva. “Lágrimas sempre vêm nas horas erradas” pensou, sufocando-as. Virou a bebida e engoliu de vez o restante. Jogou o copo no chão e amassou com os pés.
- Eu não sou um brinquedo. – disse a menina e, segurando-se para não dar-lhe um beijo, virou as costas e foi embora.
Teve vontade de olhar para trás, mas sabia que logo-logo haveria outra pessoa ali também e ela não gostaria de ver. “Foda-se”, pensou, e voltou para dentro em busca de mais álcool.