segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sintomas de Hifas


“Shitaki” dizia o pacotinho. Terence rasgou com os dentes e espalhou o pozinho em cima do macarrão instantâneo. Provou. Não era como comer cogumelo de verdade, mas era bom. Muito bom, aliás. Deu outra garfada.Todos na família tinham aquela estranha alergia a cogumelos. A mãe sempre lhe disse para não contar pra ninguém, afinal, que sintomas esquisitos! Pelo que se lembrava, as pontas dos dedos brilhavam, os olhos lacrimejavam e o peito se enchia de alguma coisa inexplicável. Parecia querer sufocá-la.
Mas ela nunca comia shitaki, nem champignon nem funghi. Não podia. A mãe lhe contara histórias suficientes para convencer-lhe de que não valia á pena. Terminou. Raspou o molho o máximo que pode raspar com um garfo em mãos. Levou o prato até a pia com um suspiro.A verdade é que Terence amava cogumelos. Aqueles pozinhos artificiais serviam apenas para saciar a gritante necessidade da garota por esses pequenos seres misteriosos. Encantavam-lhe seu sabor, suas cores, suas pintinhas... Tudo.
Embaixo da cama, Terence tinha escondida uma caixinha furada e cheia de terra, com uma pequena coleção mitológica particular que ela cuidava com todo o carinho. Tocando só com luvas, é claro, ela os estudava, manipulava e pesquisava para descobrir a fonte de sua alergia ou mesmo qualquer registro do seu caso específico. Mas em vão; nenhum nome, nada.Algo soava estranho, mas no fim das contas ela se conformava em ter sua hortinha secreta.
Naquela noite ela escovou os dentes e, antes de dormir, deu uma olhada em seus “bebezinhos”. O champignon, Mike, estava com uma cara estranha, como se estivesse embranquecendo mais ainda. Sim, ela dava nomes aos cogumelo e, sim de novo, para ela eles tinham uma “cara”. Mas ela atribuiu a impressão ao sono e enfiou-se debaixo das cobertas. Dormiu imediatamente.

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