domingo, 20 de junho de 2010

O Rio e O Bosque


Paz. Ou quase. Mas aquela sensação já bastava. Livrar-me do ódio que impregnava as minhas entranhas foi indescritível. Como um ponto final que nunca havia sido notado, mas que o olho percebe repentinamente com alívio. Não era a intenção e eu não pensava ser capaz. Comecei a revirar o passado, ler aquelas cartas que nunca te mandei e todas as conversas que tivemos e percebi tudo, de uma forma que só se percebe olhando de fora.
Foi como abrir uma cortina muito parecida com o céu e perceber que as coisas não são assim tão simples. Não é simplesmente uma paisagem a ser admirada, tudo o que a compõe está vivo e se movimenta. Chorei mais uma vez ao me lembrar de tudo, mas quando as lágrimas e as palavras escritas cessaram, foi-se também a lama.
Foi um alívio, não precisar mais te odiar e nem me odiar. Saber que posso guardar aquelas cenas na lembrança, mas que não preciso me prender a elas. Poder admirar a paisagem da janela de agora, uma janela que já mudou de cor e de lugar e que me mostra coisas diferentes daquele tempo. Diferentes, sim, mas bonitas também ao seu modo. Foi como se as borboletas de lá de fora me chamassem pra correr através do bosque, me garantindo que haveria muitos rios pela frente.
E eu finalmente pude escutá-las, de verdade. Finalmente pude deixar a água pra trás sem medo da sede. Porque não se pode prender um rio, ou ele simplesmente perde sua beleza. Então eu reconheci meus erros e perdoei os seus da melhor forma possível. Eu entendi que não importava de quem era a culpa, entendi que talvez nem houvesse um culpado.
Chorei ao olhar a margem atrás de mim. Mas dei um passo em direção ao bosque, me afastando. Aquele rio podia me deixar com saudades às vezes, mas havia ficado para trás, finalmente. Agora eu olhava pra frente de uma maneira diferente, como se eu visse que a vida me oferecia milhões de caminhos e agora eu podia andar e correr no ritmo que eu quisesse. E assim eu termino este texto, que não é o primeiro e nem o último que já escrevi ou escreverei. Porque a vida está só começando e tudo é como uma aventura excitante para os meus olhos ávidos e renascidos.

1995

Eu nasci no mês certo, mas o ano estava errado. Tinha muitas chances certas de nascer no passado e uma chance estranha de nascer no futuro. Mas o fato é que nasci quando nasci, nesta época tão sem razão, cheia de falsos, falsas intenções e falsos motivos, ainda...

Vejo e sinto plenitude em diversos figurinos e tempos. Climas, sóis e chuvas, gramados verdes ou becos escuros e chuvosos. Imagino. Mas ainda estou presa neste agora, onde me recarrego em momentos curtos de reflexo da vida que lembro, mas nunca tive. E a verdade é esta: Sinto saudades de momentos que nunca vivi, apartando meu peito por quandos que não me pertencem, mas são meus por direito renegado.

Ouço essas palavras, elas fluem por minha mente e saem pelos lábios da guerra, que, sentimentos e dor, narra minha alma com explosões e voz de professor. Fala-me e adormece-me com histórias deste tempo que abriga hipócritas, cínicos e demagogos sem perder seu normal ou sua suposta moral. Mas já está perdida há tempos... Tanto uma quanto outra. Tão perdidas quanto meu desejo, quanto sonhos da infância e quanto os dias que vivi nos quandos ilegais da minha caixa de música.