sábado, 2 de abril de 2016

29/02/2016

     Gosto de voltar pra casa de noite dirigindo pela costa. Gosto de me sentir solitária, infinita, vazia, de perceber a imensidão do mar engolindo a cidade adormecida, lúgebre.
     Passo pelos vultos das prostitutas, que como se fossem bestas, saem à noite para caçar. São figuras simultaneamente voluptuosas e discretas. Afora elas, a noite é dos homens - que infestam as ruas com a ausência do gênero oposto - e das pistas de piche, negras, molhadas, absorventes. Os olhos parece que se engancham nas listras amarelas, uma após a outra, em velocidade disforme.
     O carro devora o vento, come o asfalto, desliza pelo tempo. Gosto de dirigir pelas ruas desertas da noite dessa cidade enlouquecida, mareada, caduca, decrépita como a humanidade, controversa como a figura das prostitutas.

2 comentários:

  1. Uma vibração escura mas prazerosa.
    Uma respiração profunda e sincera.

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    1. Isso. Respirando o ar da noite. Sentindo as partículas vibrando adentro.

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