quarta-feira, 29 de julho de 2015

Na avenida o samba popular - 13/07/15

 Vai passar, vai passar, vai passar. Espero as horas, os dias, espero o pão torrar no forno. Sou analfabeta do tempo, então só espero. Vai passar. As nuvens, o sentimento, vai passar.
     E se estou no ponto, e se abre-se um rombo na minha barriga, no meu pensar, no plano que fiz pra me reabilitar. O ônibus? Vai passar. Nem que eu tenha que correr atrás dele. Nem que eu corra até que a velocidade seja suficiente para fazer a aerodinâmica  funcionar nas minhas asas tímidas e atrofiadas. Mas vai passar. O medo vai passar.
     E se eu conhecesse a língua do tempo pediria só pra ele ser menos contínuo, constante, implacável... Só mesmo pra que fosse viável essa coisa de administrar. Alongar umas determinadas horas, e em outras correr em disparada (pra qualquer direção, meu deus). Mas vai passar.
     Não controlo, que fique claro, se rápido ou devagar. Mas vai passar. Sinto-me como quem senta-se no banco de trás de um carro chique ("num fim de tarde de domingo..."), de olhos fechados pra não ver o caminho (nem os cadáveres de pipa). O rádio ligado pra nem perceber a velocidade. Janelas fechadas pra nem ouvir as vozes de quem passa. E vai passar.
     E isso talvez seja até confortável. Só sentir e esperar. Batucar um ritmo com os dedos, cantarolar de boca fechada pra não deixar o olho chorar, o soluço fazer pular o peito. Sentir a dor em cada pedaço, até o final, sem analgésico. Até porque vai passar. Vai passar. Vai passar.

Na avenida o samba popular.

Um comentário:

  1. Lindo lindo lindo...quantas vezes rezei pra esse samba...! Respirando e esperando ele passar...

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