quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Bruja Luna

     Quase agosto. Tive sonho de bruxa na minha última noite vermelha. Mergulho no sonho, mergulho numa piscina de corais e toco o chão. São corais que poderiam me ter raspado a pele quando pulo do penhasco (abismo?) em seu encontro, mas neles só raspo meus dedos de leve, bem carinhosamente.
     Tive sonho de bruxa, mas lembro de tão pouco! O vermelho se vai e ela hoje veio azul, dizem. Não sei... Está escondida, mas me chama e tenho que ir pra rua. Vou em busca de um resquício de magia de sonho, magia de bruxa. Vou de preto, de casaco, de couro.
     Ela é a primeira coisa que vejo quando o vento me gela a cara. É quase agosto e ela é quase tão bonita quanto no sonho, mas bem menos. No sonho era prato de sopa, sopa de bruxa, meio laranjosa, toranja, avermelhada... Lua de bruxa. Aqui é lua de quase agosto, azul, não de cor, mas de sentimento. Melancolia de bruxa quase já sem sangue.
     Ando pela rua da Lavadeira, eu, bruxa. O shuffle não coopera e me encolho de frio, me recolho em pensamentos. Até que está bonita... Ela... A noite também. É quase agosto, afinal, e andar aquece os músculos das pernas e do coração.
     Amo a lua e amo a rua. Uma chama à outra e fazem um belo par na sexta-feira 31, que não é nem 13 nem agosto. Ainda. Sinto cheiro de um perfume bom, mas não tem ninguém por perto. Ele paira ali, como que congelado no ar de julho, esperando o mês certo para se dissipar.
     Chumaços de amarelo-dente-de-leão despontam das árvores, como juba pontilhada. Já não a vejo, estou de costas. Olho para cima e da sacada de um prédio despenca cachoeira de fumaça misteriosa, que se dissipa no ar como as lembranças do sonho de bruxa. Sinto cheiro bom de novo, agora de pão, mas tampouco há padaria por perto. Nem pão nem prato de sopa. 
     Viro a esquina, uma quadra, depois viro de novo e lá está ela. Estou quase em casa e é quase agosto. Já estou rodando quadras há tempos... Percebo que olhando pra ela não consigo tirar o rosto do ar da noite. A lua me chama à rua. Os jovens caminham para os bares, para o centro e eu sigo na contramão. Sei que hoje não é pra mim. É só 31, é só mês 7.
     Percebo que olhando para ela, farol do céu, jamais conseguiria entrar. Com custo, viro de costas e ando meia quadra. Esntro em casa sem olhar pra trás e sem me despedir. Ela já é passado e tenho sede de amanhã. Entro em casa. Agora sim já é agosto.

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