De repente o simples ato de respirar tornou-se uma façanha impossível. Deu-se conta de que os pulmões lutavam contra toda uma atmosfera e expandir-se para permitir a entrada de ar era um esforço hercúleo. Poucos segundos atrás era fácil como... Bem... Como respirar. Agora o oxigênio rareava nos alvéolos, sedentos, ressequidos. Os últimos vestígios de gás carbônico, antes mero dejeto, já lhe pareciam gases nobres.
Desesperou-se. Talvez por intoxicação começava a sentir o peso abstrato do conceito de atmosfera que agora não só lhe paralisava o diafragma, mas também os membros e já começava a congelar o cérebro com todo o frio do vácuo espacial.
O todo era gigantesco e calculava não conseguir nem mesmo conceber inteiramente a grandeza disso, dessa coisa brutal que o léxico tentava definir em meras quatro letras do alfabeto latino. Sua existência, em meio a isso, lhe parecia ainda menos que os pulmões, agora ainda mais comprimidos de terror.
Esquecera-se como respirar e já desapareciam de sua mente, junto com os vestígios de ar e sanidade, as últimas lembranças de como se parecia a luz do sol e da sensação de seu calor queimando a pele. Tudo era escuro, tudo era nada. Já não podia decidir se o que mais lhe esmagava era o vácuo ou a própria madrugada.
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