Com o vento batendo no rosto e uma sensação de liberdade correndo pelas veias, Sam pedalava no limite de velocidade que suas pernas permitiam. As árvores passavam ao seu lado como relâmpagos verdes e iam desaparecendo atrás dele. Apesar da calma que embalava seu espírito, o coração ainda batia com rapidez.
Sim, sim, sim, sim, SIM. Ela disse sim. Ficava repassando o momento dez vezes por segundo. Saboreava o instante e cada letra daquela palavra miúda que beijara os doces lábios de Elise. Pensou nela e em seus olhos. Lembrou-se da frieza daquela pele contra o calor da sua e distraiu-se com isso.
Com a mente desviada do caminho, Sam perdeu o controle sobre as próprias pernas e a velocidade o derrubou como a uma criança que perde o equilíbrio no susto. Ficou alguns segundos parado, sentindo o peso da bicicleta sobre os quadris se recuperando da súbita interrupção de seus pensamentos. Levantou-se e sacudiu a terra da camisa. Havia sangue em seu rosto e o joelho ardia.
“Merda”, ele pensou, e foi levando a bicicleta ao lado do corpo pelo resto do caminho até em casa. Deixou-a nos fundos e lavou o machucado na pia do jardim. Tirou o tênis para não fazer barulho e entrou sorrateiramente pela porta dos fundos, tentando impedi-la de ranger. Pegou uma maçã na cozinha e subiu as escadas como se pisasse em ovos. A última coisa que queria era encontrar alguém.
Suas esperanças ruíram quando entrou no quarto e viu o contorno negro dos cabelos de Marie por cima do encosto da cadeira. Ela se virou, segurando cinco ou seis folhas de caderno em cada mão. Sorriu da maneira mais infantil que uma pessoa conseguiria e disse:
- Olá, Romeo... Caiu do cavalo branco?
- Me dá esses papéis, Marie.
- Own... Mas estes poemas são muito fofos. – Disse ela, cínica.– Já falou para Elise que ela é “como a neve pura da manhã”?
- Vem cá, sua criança maléfica superdotada! – Irritou-se Sam. – Me devolve a porcaria desses papéis! – Vociferou, avançando na direção dela.
- Tá booom... Que mau humor. – Cedeu ela, devolvendo as folhas a contragosto.
- Olá, Romeo... Caiu do cavalo branco?
- Me dá esses papéis, Marie.
- Own... Mas estes poemas são muito fofos. – Disse ela, cínica.– Já falou para Elise que ela é “como a neve pura da manhã”?
- Vem cá, sua criança maléfica superdotada! – Irritou-se Sam. – Me devolve a porcaria desses papéis! – Vociferou, avançando na direção dela.
- Tá booom... Que mau humor. – Cedeu ela, devolvendo as folhas a contragosto.
“Impossível uma pessoa de oito anos ser tão irritante.”, pensou ele, olhando pelo canto dos olhos enquanto Marie saltitava porta afora. Usava uma sapatinhos com meias brancas até os joelhos, vestidinho vermelho e fita na cabeça. Um perfeito anjinho.
Sam arrumou os poemas e escondeu-os no fundo falso da gaveta. Tirou a camiseta e as meias e jogou-se na cama. Decidiu que não ia deixar que nada estragasse o seu humor. Por mais que o mundo tentasse, não lhe apagaria o sorriso dos lábios.
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