Sam riscou o vidro embaçado com o dedo, a toalha ainda enrolada nos quadris. Aquela música não lhe saía da cabeça. Mas era exatamente isso que sentia, pensou. “I’ve got a feeling if I sang this loud enough, you will sing it back to me”. Finalmente ele havia notado alguma reciprocidade no rosto frio dela. Até aquela hora, havia sido como se sábado nunca tivesse existido.
Sábado... Um sorriso sombreou-lhe os lábios ao pensar na palavra. Saiu do banheiro e colocou o jeans e a camiseta do Hellboy. Mirou o corpo magro no espelho e se perguntou se beijaria um cara assim caso fosse uma garota. Preferiu nem responder à pergunta e saiu porta afora, sem que Marie percebesse. Impressionante como uma criatura de oito anos podia ser tão curiosa e inconveniente em certos momentos.
Pegou a bicicleta e pedalou até o clube de tênis. Quarta feira, só umas poucas pessoas iam lá. Foi pra praça atrás da última quadra e ficou sentado em um dos bancos de pedra, olhando umas crianças correndo atrás de um frisbee. Conferiu o relógio – isso estava virando um vício – e começou a bater os pés em um ritmo qualquer, para passar o nervosismo. Será que ela tinha lido o bilhete? Por que raios ele tinha escrito um bilhete?
Estupidez pura, claro. Qual era a dificuldade em falar diretamente com alguém com quem já se ficou? Conhecia um bom número de pessoas que viraria os olhos ao saber que um ser de 16 anos era incapaz disso. Mas ele chutaria que 95% destas pessoas nunca haviam conhecido ninguém como Elise. Ou, pelo menos, nunca tinham gostado tanto de alguém tão gélido.
Só o jeito de andar dela já passava mais segurança do que ele jamais teria e maneira com que ela simplesmente ignorava os olhares ardentes que ele tentava lhe lançar deixava em frangalhos a pouca atitude que ele conseguia reunir. Ela era completamente ilegível e isso tanto lhe seduzia quanto lhe enlouquecia. Mas tinha sido tão diferente aquele dia, quando eles finalmente ficaram juntos naquele mesmo banco.
A imagem assustadora de Elise havia se desfeito junto com o gelo e, sem armaduras, ela era ainda mais linda. Mas sábado estava agora tão longe que Sam sentia medo de novo e a idéia de que ela não viria não abandonava seus pensamentos. Mas então, mãos frias enlaçaram seus ombros por trás e um perfume conhecido chegou até ele. Seu pulso parou. “Como sempre” pensou ele.
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