sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Gira-Gira-Gira

Meu refúgio é a apatia. Pra não sentir nada além de fome, pra não sentir que não sinto (nem sequer se quiser, amor), pra canalizar essa água suja de chuva que escorre pelas frestas de globos inchados. Serve pra tudo, minha gente! É mais barato que banana, é mais útil que bombril, mais chique que Dior. Mas corra pra pegar a sua, antes que acabe o estoque, antes de ver o sorriso, antes de sentir o toque. A promoção só é válida enquanto durar a poker face, enquanto a tartaruga não sentir o peso do casco que lhe protege dos céus e tanto lhe tarda os passos.
Mas não sou a tartaruga. A ansiedade corrói minhas unhas como ácido sulfúrico. Corto, lixo. Bem pequenas, para fingir que não. A garganta queima de bílis e raiva, de choro preso, de palavras não ditas. E o que diria? Eu não sinto nada! Só mesmo fome... Dilacerante. E é provisório, ouça bem! Anote do pouco que falo o menos que digo. Um dia desapego também desse último sentimento, dessa última fraqueza nutritiva.
Abdico dos dois maiores prazeres pela sorte de empacotar as malas do cachorro preto que me fez companhia. Tem andado queto, murcho, pedindo com olhos implorantes que não lhe hagam caso. Ainda assim, é minha única e constante companhia. O quarto, a sala, tudo estará tão vazio quando ele se for... Então entra o terceiro prazer. Sempre pela porta dos fundos.
Temporário ou definitivo, é o que sobra quando a falta de sentido te arranha e te cobra. O que? Um pedacinho desesperado da sua pele, migalhas de pulmão, conpulsões compulsórias, auto-aplicadas. Só mesmo o terceiro prazer. Do irmão ou da irmã. Já nem sei qual contém mais conforto, já nem sei se me importa.
Mas não soframos na véspera da escolha. Não me chamam ansiosa? Fica no limbo, então, onde o tempo não alcança. Quando a hora chegar, eu decido.

O gira-gira gira
O gira-gira roda
O gira-gira da minha cabeça só piora

Nenhum comentário:

Postar um comentário