Talvez a vontade de uma aventura qualquer seja só para tapar o buraco da dúvida, da falta de propósito da existência. Por que tamanho medo da incompetência e da mediocridade? Leonices, talvez... Talvez... Talvez esteja só cansada de ser... Eu! (?) Demasiados anos de convivência.
Não quero (mesmo que sequer fosse uma possibilidade) usar dele nem de ninguém pra tapar buracos que eu mesma cavei no solo do que é meu caminho. Mesmo que por pura e mútua diversão... Não sei, seria antiético. Quebraria essa delicada linha tênue desse ralo e frágil código da pouca honra que me resta.
Já não consigo diferenciar vontade legítima de carência da ausência fria do afeto. Talvez só necessidade de me sentir desejada, de chamar a atenção (como um cone de trânsito: perigo!), de ser a menina dos olhos de alguém.
Mesquinhezes da alma humana. Como a alegria agressiva de ver sofrer, pelos mesmos motivos mesquinhos, quem um dia já me arrancou lágrimas secas da garganta ardida com ponta de pena. Quase sem nem ter tinta. Mesquinhez. Unha catando migalhas de sujeira debaixo de unha pra jogar na cara. Terra e sangue. Terra e pele que arranhei das costas de qualquer um num grito mais de raiva que de satisfação.
Mesquinha, eu? Sim. Quero é distância de abundâncias que não sejam de silêncio, jazz e solitude. De tanto ansiar já não quero abraço que não o do meu travesseiro, não mais visões que não o ninho intocado do telhado da minha janela, talvez já abandonado depois de tantos meses de ausência minha. Ausência mesquinha, como tudo mais.
Como as notas de uma melodia que no início não fazem sentido, mas depois começam a soar familiares.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Desiscados
Cada saudade é como um pequeno chumbo que se afunda no meu peito, como que perfurando as águas de um oceano profundo. Da ponta pende um anzol que busca incessantemente pescar algo que preencha o buraco do caminho deixado para trás. Cruéis, cada vez mais eles avançam, escavam e aumentam os túneis por onde passam.
Abrem caminho rasgando as águas espessas e vermelhas, cada vez mais escuras. Já não enxergam nada, com certeza, mas buscam desesperados a pesca que seja seduzida pelo brilho de sua ponta sem isca.
SãO tantas as saudades que já não tenho coração, mas um queijo suíço, sangrento, que mal sabe como bater. Mais se move em ondas, numa nostalgia dormente que pulsa em frequência cada vez mais débil, quase inaudível.
E quando ninguém mais puder escutar as ondas quebrando-se contra frágeis pedras, ainda estarão os anzóis, perfurando as profundezas abissais do oceano do meu peito. Para sempre buscando o que nem mais existe, o que ficou pra trás e jamais poderá ser encontrado no fundo, senão por alucinação ou miragem.
Pobres anzóis! São como peões que só podem mover-se adiante e comer o nada em diagonal frontal. Pobre do oceano este, cortado, perfurado, mutilado pela tristeza de ser insuficiente às lâminas prateadas e desiscadas. É cada vez mais profundo, escuro, salgado, pesado, estéril.
Chega o ponto em que os anzóis têm sorte de nada pescar, pois os habitantes monstruosos do oceano abissal não estão para ser vistos e antes engoliriam os chumbinhos - com gancho e tudo - morrendo de intoxicação por esquecimento. Há muito já está perdida a ponta do fio que ficou na superfície. É um caminho sem volta, afinal, a cadência de toda saudade. Seu destino é afundar e contorcer-se ao infinito, na eterna sensação de queda.
Tal vertigem, ao contrário do que mostram os filmes (i-n-o-c-e-n-t-e), nunca despertam do pesadelo da perda, do peso da existência, nem do vácuo deixado pelos anzóis da saudade.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Xei' de Nada
Não tá fácil pra ninguém.
O chão sob meus pés, rachado já de há tempos, se despedaça diante de mim. Eu, atônita, recuso-me a cair, contrariando as leis da gravidade. Fico ali parada, olhando o vazio abaixo de mim.
Pense num lugar que tá em alta na estação? O vazio. Vacíííííío. Lento, cremoso. Tão desesperante, tão paralisante, oco, opaco, tão... tão.... Vazio. Cheio de Nada, da mais fina qualidade. Nada grosso, denso, vazio.
Não tá fácil pra ninguém e eu não sei é de nada mesmo nessa porra.
O chão sob meus pés, rachado já de há tempos, se despedaça diante de mim. Eu, atônita, recuso-me a cair, contrariando as leis da gravidade. Fico ali parada, olhando o vazio abaixo de mim.
Pense num lugar que tá em alta na estação? O vazio. Vacíííííío. Lento, cremoso. Tão desesperante, tão paralisante, oco, opaco, tão... tão.... Vazio. Cheio de Nada, da mais fina qualidade. Nada grosso, denso, vazio.
Não tá fácil pra ninguém e eu não sei é de nada mesmo nessa porra.
Arte de Maria Paula Costa |
23/11/15
Já metade lá. E ao mesmo tempo em qualquer parte. Talvez pra ter uma melhor ideia do todo (o interior ou o exterior) eu tenha que alejar dos limites (os internos e os externos) e das definições e de toda essa boçal ideia de quemsoueu e toda essa merda de forma identitária que um tenta construir. Como se fosse um molde de metal que vai trabalhando e formando ao longo dos anos e que serve para fazer um belo busto de gesso quando termina-se o tempo e vem o túmulo.
Será que vivemos toda uma vida em função da morte? Gastamos tanto tempo (todo o que nos cabe) tratando de desenhar a cara que há de figurar nossa lápide... E para que? Para ser olvidados depois de 3 gerações ("os grandes gênios" em alguma centenas de anos)?
Um nome num livro que tortura secundaristas explodindo em hormônios. A isso se resumem tantos épicos! Tantas vidas eternamente veladas pela passagem do tempo. Os fatos se tornam turvos, as brumas separam da realidade cada ilha que nasce, cresce, goza e morre. Vários Avalons caídos em eterno desuso. Ai, poupáme! Poupe-me (a quem lhe escrevo, eu?) da alta paja de tratar de ser. ALTA PAJA de me levantar pra ensaiar um dia de como seria o eu do passado do futuro eu brilhante que está naquela cristaleira profética no canto da sala. Brilhando como uma das muitas taças que rompo por desantenção (autismo auto-induzido, oficial segundo mamãe).
Nada mais importante que comer um desayuno calmo, repleto de frutillas cor do sangue que sinto pulsar, repletas de sementes. Romper a constância da noite com um bom dia ao dia, ao dom, a jah. Ao sol de cegar os olhos através de lentes escuras. O sol da manhãzinha, que não é para nada o mesmo que estarei maldizendo em questão de horas.
É primavera até em dia de chuva.
Será que vivemos toda uma vida em função da morte? Gastamos tanto tempo (todo o que nos cabe) tratando de desenhar a cara que há de figurar nossa lápide... E para que? Para ser olvidados depois de 3 gerações ("os grandes gênios" em alguma centenas de anos)?
Um nome num livro que tortura secundaristas explodindo em hormônios. A isso se resumem tantos épicos! Tantas vidas eternamente veladas pela passagem do tempo. Os fatos se tornam turvos, as brumas separam da realidade cada ilha que nasce, cresce, goza e morre. Vários Avalons caídos em eterno desuso. Ai, poupáme! Poupe-me (a quem lhe escrevo, eu?) da alta paja de tratar de ser. ALTA PAJA de me levantar pra ensaiar um dia de como seria o eu do passado do futuro eu brilhante que está naquela cristaleira profética no canto da sala. Brilhando como uma das muitas taças que rompo por desantenção (autismo auto-induzido, oficial segundo mamãe).
Nada mais importante que comer um desayuno calmo, repleto de frutillas cor do sangue que sinto pulsar, repletas de sementes. Romper a constância da noite com um bom dia ao dia, ao dom, a jah. Ao sol de cegar os olhos através de lentes escuras. O sol da manhãzinha, que não é para nada o mesmo que estarei maldizendo em questão de horas.
É primavera até em dia de chuva.
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