Não é bonitinho? Que um um menino com olhar de cãozinho me siga de longe com a mente, pense em mim em seus sonhos turvos... Mas esse não é você, se não me engano. Há pouco de angelical na sua aura, que causa estremecimento nas menininhas por quem passa.
O que me segue são seus olhos escuros e atrevidos e não apenas uma mente frágil, mas um poço de desejo que sinto roçar na minha nuca. Como disse Nabokov, é fácil reconhecer uma ninfeta quando se sabe o que está procurando. Foi num estalo que descobri o que você era e a compreensão transformou-se em condenação quando percebi o que isso me tornava, de certa forma.
E por que o seu olhar persistente e seu corpo, esguio de juventude, me tornam qualquer coisa além do que eu pensava ser? Ensaio um sorriso vesgo. Povoas meus sonhos acordados com sua boca fresca e seus cabelos, ainda tão infantilmente cortados. Esses muros só são altos quando a gente é pequeno? (...) Talvez, mas dois pares de anos me tornam a mais perversa criminosa aos olhos desavisados de quem circula ao redor do grande foco de luz hipnótica que me lanças.
Seus olhos... São eles os culpados de todo o meu tormento! Seus olhares, que insinuam muito mais do que pode ser lido na íris, suas pupilas, que sonho ver dilatadas quando estivéssemos mais próximos do que um segundo está do outro. Vê? Aos olhos da leu posso ser algoz, mas a seus olhos sou vítima sofrida e deles sou escrava.
Nunca entendi bem por que é que o ovo caía de cima do muro, mas começo a ter ideias. Talvez eu também me espatife no chão se tentar pular um muro alto demais. A questão é: será que ainda posso descer pelo mesmo lado que escalei? Será que a descida não é igualmente mortal para ambos os lados? O ovo espera, inquieto, em cima do muro.
Não escreverei seu nome, porque não posso, mas ele ecoa na minha lembrança. Não descreverei seu rosto, pois isso seria como marcar a ferro o que já está pintado e contornado na minha carne.
Só resta a espera e a espera me mata de dúvida. Quando seus músculos enrijecerem com o peso da idade e sua coluna se alongar para além da minha, para além do muro, será que então seus olhos ainda serão negros, tentadores, irreverentes, meus? Só restam 4 anos e a espera me mata.
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