Por favor, não me olhe assim. Você sabe, hoje em dia não se pode mais confiar em nada e nem ninguém e a qualquer momento algo pode vir da escuridão pelo ponto cego do retrovisor. No fundo eu pude ver em seus olhos que essa não era a intenção. Era só mais um dia duro e, afinal, estamos todos na luta, não é mesmo? Mas tente entender que não estava em minhas mãos decidir ficar, muito menos confiar.
Fui impulsionada para a frente, num arranque estridente, passando pra trás o sinal vermelho e a sua silhueta cansada e desprezada. Pedi desculpas silenciosas naquele encontro fugaz de olhos, ambos assustados. Esperei que os sinais chegassem até você, na esperança de não receber esse olhar a me encarar com mágoa.
Como mostrar em poucos segundos, por detrás de uma parede de vidro, que eu não pensei aquilo de você? Juro que não! Mas eu simplesmente não podia arriscar tanta coisa numa mera certeza. Mera, sim, parca! De que valem as certezas nos dias de hoje? Elas escapam e escorrem por entre os dedos como água sujismunda.
A única coisa a fazer era esperar que você entendesse acreditasse que não era a minha intenção pisar ou sentir nojo. Nunca. Eu queria apenas me proteger. Por isso, por favor, só não me olhe assim.
Como as notas de uma melodia que no início não fazem sentido, mas depois começam a soar familiares.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Succubus
Por sua causa eu deixaria de beber, nunca mais botaria um cigarro na boca ou mesmo uma lâmina na pele. Eu tomaria sol pra suprir as deficiências de vitamina e parava com o Panax, porque teria toda a energia que preciso da alegria de te ver. Desistiria do inferno. Me embebedaria todo dia apenas com o oceano dos seus olhos e só encheria meus pulmões com o veneno da sua respiração
Os jogos de sedução perderiam toda a graça e sua crueldade teria fim, pois meus Succubus estariam satisfeitos, ninando ao som da tua voz. E o cheiro. Sempre. Aquele cheiro, o seu cheiro, o nosso cheiro; um feromônio melhor do que qualquer perfume que eu pudesse comprar ou tomar ou engolir ou mesmo quebrar no chão, de raiva
De raiva porque, não! Meus demônios estão soltos e transbordam por meus poros, enlouquecidos. Da boca pinga o vermelho do batom e esgueira-se pelo canto todo o charme de um sorriso de desdém. Saio no meu cavalo negro, por aí, na noitada. Me acabando de rir e cheirando a desejo, sugo o sangue dos meninos... E das meninas que eu vejo.
Hino Nacional
Queremos domingão de sol
Cerva, pagode e futebol
Nadar no lixo do canal
Queremos pagar de otários
Bater palma pra ordinários
Cantar o Hino Nacional
Do reino das crianças desnutridas
Das patroas mal comidas
Dos pastores de mansão
O reino dos palhaços demagogos
Que abraçam o seu povo só em tempo de eleição
Queremos mais educação
Mas antes tem brasileirão
Viva a copa do mundo
Abram alas pra Mangueira
Nepotismo é brincadeira
E o buraco é bem mais fundo
Na terra do samba de avenida
Da mulata oferecida
Digam: Aleluia, irmão!
O reino dos palhaços demagogos
Que se esquecem do seu povo
Até o ano de eleição
Cerva, pagode e futebol
Nadar no lixo do canal
Queremos pagar de otários
Bater palma pra ordinários
Cantar o Hino Nacional
Do reino das crianças desnutridas
Das patroas mal comidas
Dos pastores de mansão
O reino dos palhaços demagogos
Que abraçam o seu povo só em tempo de eleição
Queremos mais educação
Mas antes tem brasileirão
Viva a copa do mundo
Abram alas pra Mangueira
Nepotismo é brincadeira
E o buraco é bem mais fundo
Na terra do samba de avenida
Da mulata oferecida
Digam: Aleluia, irmão!
O reino dos palhaços demagogos
Que se esquecem do seu povo
Até o ano de eleição
Recaída/Voar
Estava lá, amarrada por questão de segurança e morrendo de medo de todas as coisas que podiam acontecer. Onde estava com a cabeça? Resisti ao impulso de desatar todas as fivelas e correr para longe do planador. Começamos a andar pela pista de aceleração, chacoalhando a cada lombada que se projetava da terra imperfeita.
Quando atingiu-se a velocidade de voo, fomos largados no ar e eu não pude conter um grito de terror. Era como se duas toneladas de ar pressionassem meu peito com 200km/h de força. Conduzimos a máquina, pulando de termal em termal e a cidade foi descendo aos poucos sob meus pés.
No momento em que minha adrenalina baixou e olhei pra fora foi que finalmente ficou claro o que acontecera: o mundo tinha ficado pra trás, perdido em algum lugar da superfície da Terra. À minha volta só se via o azul de um céu limpo e o melhor de tudo, o impagável: O silêncio. Não se escutava nada além do ar que batia constantemente por todo o meu corpo. Nada de motor, de buzinas, de anúncios publicitários...
Eu finalmente entendi como era se sentir um pássaro. Era o mais próximo que eu havia chegado do paraíso e queria ficar lá pra sempre. Não queria voltar pra sociedade barulhenta, com seus gritos e calombos. Queria voar.
Quando atingiu-se a velocidade de voo, fomos largados no ar e eu não pude conter um grito de terror. Era como se duas toneladas de ar pressionassem meu peito com 200km/h de força. Conduzimos a máquina, pulando de termal em termal e a cidade foi descendo aos poucos sob meus pés.
No momento em que minha adrenalina baixou e olhei pra fora foi que finalmente ficou claro o que acontecera: o mundo tinha ficado pra trás, perdido em algum lugar da superfície da Terra. À minha volta só se via o azul de um céu limpo e o melhor de tudo, o impagável: O silêncio. Não se escutava nada além do ar que batia constantemente por todo o meu corpo. Nada de motor, de buzinas, de anúncios publicitários...
Eu finalmente entendi como era se sentir um pássaro. Era o mais próximo que eu havia chegado do paraíso e queria ficar lá pra sempre. Não queria voltar pra sociedade barulhenta, com seus gritos e calombos. Queria voar.
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