Era a vigésima vez que ele se perguntava por que merdas tinha ido àquela maldita festa. Tudo era uma repulsa: a música alta de baixa qualidade, o cheiro de cigarros, as pessoas vazias e a bebida ruim. Sam gostava de festas, claro, mas não do tipo "galerinha popular". Ele estava acostumado com as bebedeiras dos amigos, ouvindo solos de guitarra e jogando Mortal Combat até amanhecer. Era quando se sentia confortavel e as coisas faziam sentido.
Mas Elise estava lá e Sam precisava ter certeza. Sempre que estavam sozinhos ela dizia que sim, amava ele. Era carinhosa e verdadeira. Só que, fora de quatro paredes e longe de lençóis coloridos, "eles" quase não existia. O negócio era que Elise fazia parte da "galerinha popular". Ele era um Nerd atrapalhado. Ficar com ela tinha contrariado todos os filminhos bobos de colegial, mas, ainda assim, ela não reagia muito bem na presença dos amigos.
Isso doía mais do que qualquer fora que ele pudesse levar. Sam tinha se cansado desse teatro e, apesar da cara sem graça que ela tinha feito, aceitou o convite de ir pra festa do terceiro ano. Acabou se arrependendo assim que pôs os pés lá.
Foi se esgueirando entre as pessoas desconhecidas e desviando dos bêbados que cambaleavam por aí. Sempre que encontrava algum amigo dela perguntava e lhe diziam pra procurar "lá em cima". Ele subiu as escadas e foi procurando nos cômodos apinhados de gente. Encontrou Elise conversando com a galera da sala. Acenou de leve e ganhou outro sorriso sem-graça como resposta. Deu um oi pra todo mundo e passou o braço pela cintura dela.
A garota murmurou um "olá" e pediu licença pra pegar uma cerveja. Se desvencilhou do abraço de Sam e saiu do cômodo, descendo as escadas. Os braços dele penderam de maneira idiota e pararam ao lado do corpo magro. Ele se virou pro meio da rodinha, pediu outra licença e foi atrás dela: era a prova que ele temia e precisava. Parou-a no meio da escada e lhe conduziu pela mão até uma varanda nos fundos. Fechiou a porta e virou as costas para Elise, se apoiando na mureta. Fechou os olhos e organizou os pensamentos, ignorando os questionamentos dela, por medo de explodir.
Voltou os olhos pra ela e encarou. Fez a pergunta. Foi a vez dela de baixar os olhos e responder mais uma vez que sim. Sim, amava ele. E por que não assumia de vez? Porque tinha vergonha? Sim. E desde quando isso era compatível com amor? Elise não sabia responder. Disse que, se ele quisesse terminar, entenderia. Sam pôs-se louco. Colocou as mãos na cabeça e falou todas as coisas que lhe vinham na mente. Sim, ele achava melhor terminar o que, aliás, nem tinha começado direito.
Afinal, além de seu servo eterno, Sam também era um homem. Um garoto, na verdade. Mas humilhação tinha limite. Ambos em prantos, ele saiu andando pelo salão em direção à porta e foi embora. Era demais para uma noite só.
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