Ela largou o lápis na escrivaninha, cruzou as mãos atrás da cabeça e encostou o corpo na cadeira. Não adiantava quantos parágrafos escrevesse, a sensação não ia embora.Já havia dado a Molly seu final feliz: o cara sexy e bronzeado, a promoção no trabalho e duas amigas loiras e animadas. A fórmula do sucesso de todos os seus livros.
É claro que dava certo, as leitoras aqueciam o coração com a história melosa. Não era isso que todas queriam? Um final feliz esperando no fim do túnel? As histórias sempre acalentaram a própria Marian, mas não nos últimos tempos. Esse tinha sido um livro difícil de escrever.
Toda vez que algo dava errado com a personagem suas entranhas resmungavam e ela se via obrigada a resolver o problema da heroína. A coisa chegou a tal ponto que, lendo o que já estava escrito, Marian encontrou o romance mais água com açúcar de todos os tempos. Nem assim as coisas dentro dela se acalmaram. Restaram-lhe só umas poucas páginas para tentar melhorar ainda mais a vida da Molly, mas era matematicamente impossível alguém ter um destino tão perfeito.
Ela levantou da cadeira e foi fazer um chocolate quente, buscando calar, ao menos, as reclamações do estômago. Não adiantava mais escrever histórias bonitinhas para fugir da própria vida. Pela primeira vez o seu método de satisfação pessoal não estava dando certo.
Viver a vida de suas personagens? Melhor coisa do mundo. Um pouco de aventura, problemas bobos no trabalho, “o cara” e os amigos que ela não tinha mais. Mas de que adiantava agora que sua mente não se deixava mais enganar pela história?
Havia chegado a hora e Marian sabia. Bebeu o resto do chocolate de um gole só, sentou-se em frente ao laptop e fez o que tinha que fazer. Assim que terminou, desligou o computador e tomou 13 comprimidos para dormir. Molly agora era viúva, desempregada e cega e Marian sabia que o dia seguinte seria difícil. Queria estar dormindo quando seu cérebro finalmente percebesse o rastro negro que ela deixara nas páginas brancas do livro.
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