quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Buttercup

(build me up)


Desculpe, baby. Não sei quantas vezes eu vou ter que repetir essa palavra para me sentir bem. Desculpas, desculpas, desculpas, desculpas. É só que a tranqüilidade não vem. Preciso te abraçar de novo. Podia passar o dia inteiro entre seus braços, só respirando.
Queria que você entendesse o que eu te falei, queria te querer de corpo e alma, como antes quis. Mas daquilo tudo, só o que nos segurava era o afeto e essa minha necessidade imensa de te ter por perto. Eu não queria perder nenhum dos dois.
Não queria que a gente se desgastasse porque nem consigo pensar na idéia de nunca mais ficar junto de você. Eu estou esperando voltar aquele sentimento adormecido enquanto sigo minha vida. Por algum motivo estúpido eu esperava que você pudesse fazer o mesmo.
Nesse momento eu me vejo batendo a cabeça na parede e perguntando a um deus em quem eu não acredito, por que não deu certo? O que pode ter dado errado se você me faz rir, chorar e abraçar os desenhos que me fez?
Se eu tivesse a resposta, tudo seria mais fácil e, acredite, eu não nos teria feito passar tanto sofrimento. Mas eu sou burra. BURRA e ESTÚPIDA. De que me adianta saber as leis da física e entender a química se não posso entender as pessoas?
Elas não são cubos mágicos que eu possa resolver com minhas mãos e meu cérebro. Não existe fórmula pra te fazer sorrir e nada me dói tanto quanto isso no momento. Também não tem jeito de me fazer dormir nem te tirar da cabeça e só me resta ficar deitada de olhos fechados, ouvindo as horas passarem.
E as horas passam. E a vida segue em frente. Tanto a minha quanto a sua, uma por mar e outra por terra. E isso dói.
 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Peter Pan


Você? Não passa de uma memória. Morangos e chocolate, promessas vazias e um pijama roxo que já está criando poeira no armário. Você, e os raios de sol que nasciam da sua cabeça e eu tentava pentear, só pra abusar e chamar a atenção. Você. O reflexo de um menino que não cresce, luta com piratas e dança valsa comigo entre as fadas da nossa Terra do Nunca. Você e sua camiseta mil vezes amaldiçoada, cobrindo o corpo de outra que não eu.
Sua culpa por toda a quantidade de álcool que eu consumo e a minha culpa pelos óculos perdidos para sempre, por coincidência, no mesmo lugar onde tudo começou. Você e a época dos três desejos, de Something, do “Por que não?”. Nós e todo o período em que nos foi permitido usar esse pronome. Tudo cortado fora por uma máquina zero ou uma tesoura e escondido debaixo de um boné.
Eu assisti calada as madeixas douradas caírem no chão. Sabia que eram os restos mortais do menino que partiu da Terra do Nunca em direção à Terra do Nada, me deixando sozinha com meus morangos, meus chocolates e minhas fadas. Guardando comigo aquele último dedal que fiquei de te dar.

Brain Damage


            Ela largou o lápis na escrivaninha, cruzou as mãos atrás da cabeça e encostou o corpo na cadeira. Não adiantava quantos parágrafos escrevesse, a sensação não ia embora.Já havia dado a Molly seu final feliz: o cara sexy e bronzeado, a promoção no trabalho e duas amigas loiras e animadas. A fórmula do sucesso de todos os seus livros.
É claro que dava certo, as leitoras aqueciam o coração com a história melosa. Não era isso que todas queriam? Um final feliz esperando no fim do túnel? As histórias sempre acalentaram a própria Marian, mas não nos últimos tempos. Esse tinha sido um livro difícil de escrever.
Toda vez que algo dava errado com a personagem suas entranhas resmungavam e ela se via obrigada a resolver o problema da heroína. A coisa chegou a tal ponto que, lendo o que já estava escrito, Marian encontrou o romance mais água com açúcar de todos os tempos. Nem assim as coisas dentro dela se acalmaram. Restaram-lhe só umas poucas páginas para tentar melhorar ainda mais a vida da Molly, mas era matematicamente impossível alguém ter um destino tão perfeito.
Ela levantou da cadeira e foi fazer um chocolate quente, buscando calar, ao menos, as reclamações do estômago. Não adiantava mais escrever histórias bonitinhas para fugir da própria vida. Pela primeira vez o seu método de satisfação pessoal não estava dando certo.
Viver a vida de suas personagens? Melhor coisa do mundo. Um pouco de aventura, problemas bobos no trabalho, “o cara” e os amigos que ela não tinha mais. Mas de que adiantava agora que sua mente não se deixava mais enganar pela história?
Havia chegado a hora e Marian sabia. Bebeu o resto do chocolate de um gole só, sentou-se em frente ao laptop e fez o que tinha que fazer. Assim que terminou, desligou o computador e tomou 13 comprimidos para dormir. Molly agora era viúva, desempregada e cega e Marian sabia que o dia seguinte seria difícil. Queria estar dormindo quando seu cérebro finalmente percebesse o rastro negro que ela deixara nas páginas brancas do livro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Margaridas 5

   E as coisas terminam como começaram, já que ele estava acordado às 2h da manhã, fitando o teto. Seu quarto ainda era uma escuridão de contornos indefinidos que o engoliam e sufocavam. Era silencioso e perturbador. Sua mente, em contraste, estava repleta de pensamentos que vinham em turbilhões, afastando o sono. A maioria era sobre ela. Na verdade, tudo sempre girava em torno disso.
   Amor nem sempre bastava e a vida ainda era indecifrável para seus olhos desacostumados de luz.

Margaridas 4

   Era a vigésima vez que ele se perguntava por que merdas tinha ido àquela maldita festa. Tudo era uma repulsa: a música alta de baixa qualidade, o cheiro de cigarros, as pessoas vazias e a bebida ruim. Sam gostava de festas, claro, mas não do tipo "galerinha popular". Ele estava acostumado com as bebedeiras  dos amigos, ouvindo solos de guitarra e jogando Mortal Combat  até amanhecer. Era quando se sentia confortavel e as coisas faziam sentido.
   Mas Elise estava lá e Sam precisava ter certeza. Sempre que estavam sozinhos ela dizia que sim, amava ele. Era carinhosa e verdadeira. Só que, fora de quatro paredes e longe de lençóis coloridos, "eles" quase não existia. O negócio era que Elise fazia parte da "galerinha popular". Ele era um Nerd atrapalhado. Ficar com ela tinha contrariado todos os filminhos bobos de colegial, mas, ainda assim, ela não reagia muito bem na presença dos amigos.
   Isso doía mais do que qualquer fora que ele pudesse levar. Sam tinha se cansado desse teatro e, apesar da cara sem graça que ela tinha feito, aceitou o convite de ir pra festa do terceiro ano. Acabou se arrependendo assim que pôs os pés lá.
   Foi se esgueirando entre as pessoas desconhecidas e desviando dos bêbados que cambaleavam por aí. Sempre que encontrava algum amigo dela perguntava e lhe diziam pra procurar "lá em cima". Ele subiu as escadas e foi procurando nos cômodos apinhados de gente. Encontrou Elise conversando com a galera da sala. Acenou de leve e ganhou outro sorriso sem-graça como resposta. Deu um oi pra todo mundo e passou o braço pela cintura dela.
   A garota murmurou um "olá" e pediu licença pra pegar uma cerveja. Se desvencilhou do abraço de Sam e saiu do cômodo, descendo as escadas. Os braços dele penderam de maneira idiota e pararam ao lado do corpo magro. Ele se virou pro meio da rodinha, pediu outra licença e foi atrás dela: era a prova que ele temia e precisava. Parou-a no meio da escada e lhe conduziu pela mão até uma varanda nos fundos. Fechiou a porta e virou as costas para Elise, se apoiando na mureta. Fechou os olhos e organizou os pensamentos, ignorando os questionamentos dela, por medo de explodir.
   Voltou os olhos pra ela e encarou. Fez a pergunta. Foi a vez dela de baixar os olhos e responder mais uma vez que sim. Sim, amava ele. E por que não assumia de vez? Porque tinha vergonha? Sim. E desde quando isso era compatível com amor? Elise não sabia responder. Disse que, se ele quisesse terminar, entenderia. Sam pôs-se louco. Colocou as mãos na cabeça e falou todas as coisas que lhe vinham na mente. Sim, ele achava melhor terminar o que, aliás, nem tinha começado direito.
   Afinal, além de seu servo eterno, Sam também era um homem. Um garoto, na verdade. Mas humilhação tinha limite. Ambos em prantos, ele saiu andando pelo salão em direção à porta e foi embora. Era demais para uma noite só.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Lies make baby Jesus cry


Let me think
‘Cause I want
To be sure
Don’t be shy
Show me now
What you’ve learned
Life’s like this
Look at you
It ain’t fair
It’s my course
Let me try
Not to care
Let me sleep or let me shine
Yes, her eyes are fuckin’ bright
But I’m not a little child
And lies make baby Jesus cry
Is this it?
I was just
Not enough?
Our mistakes
I’m too proud
You’re too rough
Let it go
Follow up
Give it back
All your words
Making mess
In my head
You were too drunk, you were too high
I know all your excuses, doesn’t really mind
Look over your shoulders, let’s see what you find
‘Cause lies make baby Jesus cry