sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Derrela

Y se fué todo a la mierda.
     Meus planos, meus pobres enganos... Meus vinte anos de opressões guardadas e ilusões e martírios: por que não comigo? Por que fico batendo de cabeça contra um antro que não me quer, me diminui... Me vê como musa parcialmente incapacitada. Me sinto mesmo é fracassada.
     Como é que um elogio se torna a por das ofensas? Como pode conter em sí um direcionamento velado, esse cortejo aparentemente tão nobre? E eu que queria tanto ser bonita, agora odeio meu nome, me rasgo o rosto pelos olhos abaixo. Duvido de meus esforços e rio de minhas aspirações.
     Afundo em meu peito as cinzas do cigarro do fracasso - orgânico, hein? Mas de que importa?  Não serve minha garganta pra cantar? - QUEIMO. Não servem meus pulmões pra soprar? - TORRO. Não servem pra tocar esses meus artríticos dedos? - AGARRO com eles um novo cigarro e meto bronca.
     E que desça rasgando. E que a porra do porro seque tanto tudo ao ponto de que já nem tenha lágrimas pra chorar por esse futuro que nunca foi (nem nunca será).
     Será? BASTA DE ESPERANÇA. Para mim agora tem que bastar uma verborragia que tira do peito os sentimentos e joga no papel de qualquer jeito, que me deixa zonza e vazia, insone, de olhos abertos no escuro. Sem medo, sem amor... Vazios.
     Luz dos olhos se esmaecendo, tremulando. E se o amor só é bom se doer... Bom, bom. Não sinto amor, nem medo, nem dor. Só sinto fome. Pergunte ao meu orixá, se não me crê. O amor só é bom se doer. E eu não sinto amor, nem medo, nem dor.
     Eu sinto fome. Com nome e sobrenmome. Começa com A e termina com E. Começa com R e termina com A. Você tem fome de quê? Já lembrou do que é?

Gira-Gira-Gira

Meu refúgio é a apatia. Pra não sentir nada além de fome, pra não sentir que não sinto (nem sequer se quiser, amor), pra canalizar essa água suja de chuva que escorre pelas frestas de globos inchados. Serve pra tudo, minha gente! É mais barato que banana, é mais útil que bombril, mais chique que Dior. Mas corra pra pegar a sua, antes que acabe o estoque, antes de ver o sorriso, antes de sentir o toque. A promoção só é válida enquanto durar a poker face, enquanto a tartaruga não sentir o peso do casco que lhe protege dos céus e tanto lhe tarda os passos.
Mas não sou a tartaruga. A ansiedade corrói minhas unhas como ácido sulfúrico. Corto, lixo. Bem pequenas, para fingir que não. A garganta queima de bílis e raiva, de choro preso, de palavras não ditas. E o que diria? Eu não sinto nada! Só mesmo fome... Dilacerante. E é provisório, ouça bem! Anote do pouco que falo o menos que digo. Um dia desapego também desse último sentimento, dessa última fraqueza nutritiva.
Abdico dos dois maiores prazeres pela sorte de empacotar as malas do cachorro preto que me fez companhia. Tem andado queto, murcho, pedindo com olhos implorantes que não lhe hagam caso. Ainda assim, é minha única e constante companhia. O quarto, a sala, tudo estará tão vazio quando ele se for... Então entra o terceiro prazer. Sempre pela porta dos fundos.
Temporário ou definitivo, é o que sobra quando a falta de sentido te arranha e te cobra. O que? Um pedacinho desesperado da sua pele, migalhas de pulmão, conpulsões compulsórias, auto-aplicadas. Só mesmo o terceiro prazer. Do irmão ou da irmã. Já nem sei qual contém mais conforto, já nem sei se me importa.
Mas não soframos na véspera da escolha. Não me chamam ansiosa? Fica no limbo, então, onde o tempo não alcança. Quando a hora chegar, eu decido.

O gira-gira gira
O gira-gira roda
O gira-gira da minha cabeça só piora