Esse é o momento que entendo o que já sabia: é sempre a mesma armadilha e é sempre com convicção inabalável que nela me atiro. Avanço com a sede de um vampiro, procurando um pouco de sangue, de açúcar, de afeto, um suspiro... Ou ao menos um que não seja tão triste.
Mas as coisas vão mal. Eu já sei o fim: reviravoltas, esperas, esperanças e o final, que é pior que bom e melhor que ruim. Faz-se então minha cova, que é cavada já antes dos créditos, mas na qual só me deito quando as luzes se acendem e a pipoca vai sendo varrida do chão.
Odeio falsos finais felizes, quando olha-se para o horizonte como se houvesse continuidade, como se aquele navio não estivesse indo embora pra nunca mais voltar. Falsos! Fingidos! Odeio-os mais do que aos declarados finais tristes. Nestes tudo é claro; lágrimas e luto.
Já os finais hipócritas... Esses doem! Prendem-se em mim como o piche no pé de um caminhante descalço na praia. Fazem-me amar, fazem-me querer e no fim, quando a protagonista olha ao longe e sorri sou eu quem sente sua dor e verte suas lágrimas.
Por quê? Por que tenho eu que sentir na pele e nos ossos até o que não vem de mim? Olho, trêmula, para as feridas alheias e minhas pernas latejam. Já bastam-me os exageros naturais de leoa, basta o meu próprio e privativo drama, basta todo o sentimento transbordante que, mesmo sabendo ser excesso, sinto tão real e verdadeiro dentro de mim.
Será que meu coração não enrijece? Parece ser minha sina envelhecer e não perder a ternura, mas sem saber endurecer por dentro como o gelo fino que me cobre por fora. Pero hay que! Hay qué? Hay! Ai...
Sou um patético crustáceo que se machuca com os grãos de areia que o invadem. Cubro-os com finas e infinitas camadas de delicada madrepérola que é o choro da minha alma. Chamo-os de arte, dou títulos e nomes a eles. Sigo tal qual uma ostra que só mostrará suas pérolas em seu final hipócrita, depois de morrer.
Morrer, claro, de amor demais.
"Ostra feliz não faz pérola."
Rubem Alves
"sin perder la ternura jamás"
ResponderExcluirjamás
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