quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Lluvia Cálida

Recém tirava o jeans quando escutou o barulho da porta se abrindo. O coração disparou. Ainda estava usando a camisa dele quando o seu vulto cansado chegou à porta do quarto e tateou pelo interruptor. Ofegava um pouco, parte pelo esforço de escalar as escadas vertiginosas até o terceiro andar, parte pelo clima abafado que predizia uma chuva. A umidade portenha carregando cada centímetro cúbico de ar.

Não soube bem como reagir. Quando a luz se acendeu não viu no rosto dele a surpresa que esperava, senão uma outra ansiedade . Seus olhos foram baixando do rosto até a camisa, passando fugazes pelas pernas recém desnudas. O jeans jazia embolados a seus pés. Sentiu-se clandestina, ainda que aquele quarto também lhe pertencesse.

Ficaram em silêncio alguns instantes, encarando-se, perscrutando o rosto do outro analisando os detalhes que os meses de afastamento haviam alterado. Quanto dura um instante? Identificou duas pintas novas em suas maçãs e se perguntou se algo em si mesma também estaria muito diferente.
Não quis quebrar o silêncio com algo banal como um "oi". Lhe parecia estúpido, inútil. Um saludo sem conteúdo. A tensão que se criava de repente estava acompanhada de uma sensualidade, um erotismo latente que conectava seus poros diretamente com a pele levemente úmida de suor que grudava o peito dele à camisa de verão. Por fim, foi ele quem pôs fim ao silêncio:

"Quando passei pela portaria Fernando me disse que você estava aqui". Cada palavra continha em si um tremor inquieto, quase inaudível.

"Ah." Balbuciou ela, simplesmente, sem saber o que dizer. Em seu timbre transbordava o fervor que desertava por estar naquele ambiente, com aquela pessoa, com aquela camisa. Essa excitação nem lhe permitia sentir a vergonha que normalmente lhe acometeria em uma situação como essa.

"Não esperava que você viesse..." ele deu alguns passos em sua direção enquanto dizia essas palavras. A ela não lhe ocorreu recuar, ao contrário, sentia um impulso de se atirar contra ele e rasgar suas roupas com as unhas e morder seus lábios até que sangrassem, Pensava sentir contida dentro dele a mesma vontade, que fazia com que lhe tremessem as mãos.

Já não pode evitar mais. A soltura de uma respiração que ela nem se dera conta de estar presa fez com que seu corpo se movesse sozinho. Ele tampouco hesitou (en realidade mal piscou) e lhe abraçou e mordeu e beijou, como um animal faminto. Ela sentiu os seios endurecendo sob a camisa, que logo foi removida e atirada ao piso como um trapo cualquiera, junto com as roupas dele.

Arrepios que não tinham nada que ver com frio lhe eriçavam todos os pelos do corpo e o clítoris latejava entre as coxas quentes. Não chegou a dar-se conta do momento exato em que se deitaram ma cama. Só percebia as peles ( a sua e a dele, agora indistinguíveis) que se roçavam, futucavam, apertavam e esfregavam-se mutuamente. Não respiravam. Grandes quantidades de ar entravam e saíam de ambos os corpos, mas o ato era desesperado, involuntário... O diafragma e pulmões estavam a serviço de outras funções corporais, agora infinitamente mais importantes.

Cheirou pela milésima vez aquela nuca desnuda e sentiu o feromônio tão conhecido daquele corpo sobre o seu. Era estimulante quanto o dedo que se movia dentro dela e lhe arrancava uma outra dúzia de gemidos. Escutava-os, mas não sabia reconhecer-los como seus, senão como parte de toda a massa de informações que os sentidos lhe atiravam ao cérebro confuso. Mas lhe excitavam. O ruído de seus próprios gemidos, fluidos, respiração... Tudo somava ao calor, à energia que transitava entre seus corpos e lhe molhava a calcinha.

Ele sentia os dedos tremerem ao entrar nela. Úmida, quente. Pulsava. As paredes internas pareciam contorcer-se de prazer e querer envolver-los. O polegar lhe massageava o clítoris, cada vez mais inchado pela fricção.

Ele também suava. Agarrou suas cosas com as mãos e pôs a cabeça entre suas pernas, sentindo louco cheiro que emanava dela. Enlouqueceu-se ainda mais. Entre mãos, lábios e dentes lhe arrancou a calcinha ensopada. Lábios encontraram lábios. E nariz. E língua, suavemente. Ela respirava fundo, tremia, gemia baixinho. Espasmos começaram a tomar-lhe a pele da barriga, pés e coxas. O peito subia e baixava num ritmo cada vez mais desesperado. Ele sentia a vibração daquele corpo que se tremia inteiro  ao mover da sua boca, como se sussurrasse palavras mágicas. Ela já não gemia: os sons que emitia lhe escapavam quase sem sentir e ele os absorvia em sua pele, excitado.

Ela sentia gotas de suor escorrerem-lhe pelo corpo. Não sabia se seu, dele ou, mais provável, uma mistura de todos os fluidos que lhe escorriam em gotas pelas coxas e pela cintura. Sentia calafrios (quentes) no umbigo, que acariciava com a ponta dos dedos. O êxtase já lhe chegava pelos bordes, ariçando os pelos num arrepio que lhe desceu pela pele das costas, lhe tomou o ventre e deixou em pé cada pelo de suas pernas. Gemeu, a tensão e o tesão do orgasmo soando naquele timbre rasgado do prazer sofrido daquela transa alucinada de reencontro, que assim como o terrível calor do verão, duraria quase toda a noite e só terminaria quando chegasse a chuva da madrugada.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Bajón - 14/11/15

3 da tarde e nada da vida começar. A pressão desce mais dura que a ressaca. Bajón. A depressão coça a cabeça e analisa a situação: bajón. A coragem de sair da cama se escondeu debaixo do cobertor e ficou entre resmungos e cutucadas com a bexiga cheia pra ver quem activava primeiro.
Duas gatas manhosas... Ao final foi o sol. A ditadura da luz, o desconforto de compartir a cama com um ser-objeto subitamente incômodo. (Horrivel dizer isso,né? Mas é verdade, fazer o que?)