TAC TAC TAC TAC
Alguma engrenagem
Estala do lado de fora
Não queria sair da cama
TEC TEC TEC TEC
Meus dentes estalam
Por dentro do crânio
3º às sete da manhã
TIC TIC TIC TIC
Pisca, pisca, pisca
Não é bem muito sono
Senão como querer não ter acordado
TOC TOC TOC TOC
Não bata na porta
Se estou aqui é porque preciso
Queria estar na cama
TUC TUC TUC TUC
Já de olhos fechados
Escuto goteiras em algum cômodo
É isso, estou no céu do dia
Como as notas de uma melodia que no início não fazem sentido, mas depois começam a soar familiares.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
Na Panza da Serpente
Vou tal qual toupeira supersônica pelos túneis obscuros e artificiais. Imagino o meu corpo como o próprio trem e até sinto meu pescoço se inclinar um pouco para a frente com esse pensamento. Quiçá queira tanto não estar nesse vagão lotado que a ventania alucinada que atinge a carroceria do trem me parece mais agradável que o olor de seres humanos suados, mal-lavados, abafado dentro do cheiro-sensação de roupas já usadas pela semana, camada acima de camada de tecido. Por último, embaixo de tudo, a pele. Uma pele gordurosa, gritando pelos poros o almoço, provavelmente consumido em alguma lanchonete do centro.
Uma senhora me olha feio. Talvez por projetar a cabeça pra frente por um trem, talvez tenha deixado transparecer nas feições algo dos meus devaneios sobre tecidos e gordura. Talvez ela nem mesmo me encare. Talvez esteja ela mesma sentindo um cheiro desagradável e apenas desvie, enojada, o rosto da sua fonte, para qualquer direção.
O trem dá um solavanco e seguro em um dos tubos de ferro para não cair. O metal está deliciosamente frio e uma vez mais desejo ser o trem para ter a pele metálica e gelada, sempre acariciada com velocidade pelos ventos subterrâneos do metrô. Me seguro com força e consigo me manter em pé apesar das brutas sacudidas que sofre o vagão e da camada de gordura que mil mãos deixaram gravada no cano de segurar.
Uma moça que está numa diagonal à minha esquerda não tem a mesma sorte. A massa de corpos não lhe permite largar o celular a tempo de esticar o corpo, os braços e segurar-se, de forma que acaba caindo sobre as pessoas ao seu redor, desequilibrada. O celular se perde em meio ao mar de pés. Não queria estar na pele dela, com certeza... Aquele celular em um segundo seria uma história distante para contar aos netos.
Tampouco ela queria estar na minha pele, suponho. A cara de fome (de quê?), as olheiras, a barba por fazer, as roupas e ânimos amassados pelo dia no escritório. Nem sequer tenho uma gravata para dar-me uma aparência mais digna... A coleira foi a primeira coisa que desamarrei quando descia pelas escadas rolantes do metrô. Pareço um pobre diabo, queimando de calor. Minha própria pele me rejeita.
Não... Nesse momento todos queremos estar na pele do trem. Eu, ela, a senhora, o menino entediado que a mãe segura pelo braço, o muçulmano que empapa de suor seu turbante, a mãe que segura o filho pelo braço e a bolsa no ombro oposto. Todos queremos a adrenalina e o rosto gelado.
Uma senhora me olha feio. Talvez por projetar a cabeça pra frente por um trem, talvez tenha deixado transparecer nas feições algo dos meus devaneios sobre tecidos e gordura. Talvez ela nem mesmo me encare. Talvez esteja ela mesma sentindo um cheiro desagradável e apenas desvie, enojada, o rosto da sua fonte, para qualquer direção.
O trem dá um solavanco e seguro em um dos tubos de ferro para não cair. O metal está deliciosamente frio e uma vez mais desejo ser o trem para ter a pele metálica e gelada, sempre acariciada com velocidade pelos ventos subterrâneos do metrô. Me seguro com força e consigo me manter em pé apesar das brutas sacudidas que sofre o vagão e da camada de gordura que mil mãos deixaram gravada no cano de segurar.
Uma moça que está numa diagonal à minha esquerda não tem a mesma sorte. A massa de corpos não lhe permite largar o celular a tempo de esticar o corpo, os braços e segurar-se, de forma que acaba caindo sobre as pessoas ao seu redor, desequilibrada. O celular se perde em meio ao mar de pés. Não queria estar na pele dela, com certeza... Aquele celular em um segundo seria uma história distante para contar aos netos.
Tampouco ela queria estar na minha pele, suponho. A cara de fome (de quê?), as olheiras, a barba por fazer, as roupas e ânimos amassados pelo dia no escritório. Nem sequer tenho uma gravata para dar-me uma aparência mais digna... A coleira foi a primeira coisa que desamarrei quando descia pelas escadas rolantes do metrô. Pareço um pobre diabo, queimando de calor. Minha própria pele me rejeita.
Não... Nesse momento todos queremos estar na pele do trem. Eu, ela, a senhora, o menino entediado que a mãe segura pelo braço, o muçulmano que empapa de suor seu turbante, a mãe que segura o filho pelo braço e a bolsa no ombro oposto. Todos queremos a adrenalina e o rosto gelado.
domingo, 11 de outubro de 2015
A (I)Mortalidade das Rosas - 11/09/15
Buquê são flores mortas. São, verdade, mas desde o início sabia que estariam. Só podem estar tão vivas quanto a memória que tenho delas, ou melhor, quanto consiga descrever a memória que tenho delas.
Mesmo assim, são lembranças, são marcos, são arranjos mortos de momentos que já não são, gravados pra você no cristal fluido da mente. Tão mortas quanto o passado, tão ilusoriamente vivas quanto um filme.
Mesmo assim, são lembranças, são marcos, são arranjos mortos de momentos que já não são, gravados pra você no cristal fluido da mente. Tão mortas quanto o passado, tão ilusoriamente vivas quanto um filme.
Foto: Maga Salinas |
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